segunda-feira, 30 de abril de 2018

"Segredos Para Um Final Feliz", Lucy Dillon

Esta foi mais uma leitura que se revelou surpreendente pela forma como me tocou. Neste "Segredos Para Um Final Feliz" acompanhamos Anna e Michelle, duas amigas que após redigirem as suas listas de resolução de Ano Novo, esperam ver certas mudanças nas suas vidas ao longo de um ano, mas acabam por encontrar outras, que chegam a colocar a própria amizade à prova. Porque "life is what happens to you/ while you're busy making other plans", como cantaria o John Lennon, não é assim? E elas bem o demonstram. 

Michelle é uma mulher prática que gosta de manter a vida sob controlo, desde a contabilidade da sua loja de produtos de decoração ao aspecto imaculado da sua casa, e mostra orgulho no seu dia-a-dia ocupado, mas solitário. Comparada com a amiga, Anna parece ter uma vida quase caótica, dividida entre os cuidados das três enteadas - sendo duas delas adolescentes -  e o cão dálmata das raparigas, Pongo.
Michelle decide reabrir a livraria de Longhampton e convida a amiga para a gerir, já que Anna é uma apaixonada pela leitura. Por um lado, o negócio dá-lhes um novo alento. Por outro, há mais aspectos pessoais a sobreporem-se nas suas vidas, desde a presença invisível de Harvey, o marido manipulador de Michelle que lhe minou a confiança e não parece querer perceber que o divórcio está iminente, aos dramas familiares de Anna, cujo plano para aquele ano era apenas ter o próprio bebé.

Não estava à espera de gostar tanto da leitura deste livro como aconteceu. Sem cair em lamechices, a autora consegue mostrar-nos protagonistas bem palpáveis, que nos fazem torcer por elas enquanto se dedicam a assuntos "reais", e uma mão-cheia de outras personagens que de uma maneira ou de outra conseguem mexer com um leitor. Nesse aspecto, torna-se quase "trágico-cómico", à boa maneira de um filme romântico britânico, e adorei odiar Harvey e revirar os olhos às tiradas da sogra de Anna. E eu gosto quando um livro tem a capacidade de me levar a comentar passagens sozinha...
Como "cerejas no topo do bolo", senti-me também compelida a ler para descobrir o mistério do passado que Michelle esconde por baixo de tanto controlo, e não deixei de rever o meu próprio gosto pela leitura em Anna - que também teve a infância acompanhada de autores como a Enid Blyton e encontra consolo em coisas tão "mínimas" como planear as leituras das férias.
Só acho que "Segredos Para Um Final Feliz" peca em divagações sobre ideias de negócio a certo ponto. De resto, foi uma boa descoberta acerca de laços de amizade e de família, lida com muito gosto.


Sinopse

E vocês, já o leram? Qual é a vossa opinião?
Boas leituras!

quarta-feira, 18 de abril de 2018

"O Jardim Encantado" e "A Magia das Pequenas Coisas", Sarah Addison Allen

Esta vai ser uma "opinião em dose dupla", pois com a aquisição de "A Magia das Pequenas Coisas" não podia faltar uma releitura do primeiro livro sobre as irmãs Waverley, "O Jardim Encantado".
Por acaso, relê-lo ao fim de quase dez anos - por coincidência, a linha temporal que separa as duas histórias - foi só por si uma experiência engraçada.
Lembro-me de ter adorado este livro, de o ter achado ternurento e atmosférico, mas a verdade é que pouco recordava do enredo, e não me queria sentir perdida com a segunda parte da história de Sidney e Claire.

 
Sinopse

Neste primeiro volume Claire, uma mulher solitária habituada a uma vida previsível, dirige um negócio de catering baseado nas receitas da avó, onde cada prato feito com os ingredientes do jardim da família pode afectar de uma maneira específica quem o come. Na sua cidade natal, Bascom, os Waverley são conhecidos pelas suas peculiaridades - como as da prima Evanelle, que oferece objectos às pessoas antes de elas precisarem dos mesmos - e pela macieira que se diz ser profética. Fora para se afastar deste legado que Sidney abandonara a cidade anos antes, mas a casa da família parece-lhe ser o único porto de abrigo para educar a filha de cinco anos, Bay, quando decide finalmente fugir de um casamento abusivo.
Ao longo do livro vamos observando o reencontro de duas irmãs muito diferentes e as suas mudanças de atitude. Se uma pode aprender a diminuir as suas reservas, a outra pode aceitar que na maior parte das vezes, o que realmente queremos está já à nossa frente.


Sinopse

Em "A Magia das Pequenas Coisas" regressamos dez anos depois à vida das mulheres Waverley, que se sentem num impasse até a primeira geada chegar, uma época de tensão para a família. Posso apenas dizer que Claire abandonou o catering a favor de um negócio de doces bem sucedido, mas que lhe suga tempo e energia; Sidney dirige o próprio salão de cabeleireiro, mas as tentativas para voltar a ser mãe não estão a resultar e Bay está apaixonada por alguém que a pode magoar. Para além disso, Russell Zahler aparece em Bascom, e este velhote de olhos cinzentos não parece ter as melhores intenções sobre as Waverley.
Este segundo livro agarrou-me, ou não estivesse super curiosa para perceber um pouco mais sobre o passado Waverley e o objectivo de Russell. E, claro, foi engraçado regressar a Bascom e às suas gentes e ver como a vida das irmãs tinha mudado. Só tive pena de o desfecho me parecer tão rápido - coisa que também acontece no primeiro volume.Se me permitem, também tenho pena que cá por terras lusas não se tenha mantido o título mais próximo do original. Mas continuemos.

Portanto, voltei a embrenhar-me no mundo Waverley, onde a casa de família tem vontade própria e a macieira é temperamental que baste, e no universo de Sarah Addison Allen.
Quem conhece a autora já sabe o que pode esperar do seu imaginário: famílias peculiares, um toque de fantasia magico-realista e histórias escritas para aquecer o coração porque, por mais negras que possam ser as experiências de certas personagens, o certo é que vamos acabar a leitura com uma boa disposição. E, por vezes, é mesmo disso que um leitor precisa, não é?
Dez anos depois chego a achar que a história de Claire em "O Jardim Encantado" tem o seu quê de "inocente", mas estes são livros leves, ideais para épocas que pedem tal tipo de leitura e que, por isso, valem o que valem. Eu estava mesmo a precisar de uma leitura mais doce, pelo que lê-los soube muito bem.

E vocês, já conhecem estes livros? Qual é a vossa  opinião?
Boas leituras!


domingo, 25 de março de 2018

"Uma Casa de Família", Natasha Solomons

Em "Uma Casa de Família" Elise Landau é uma jovem judia austríaca que, para escapar da ocupação nazi, é enviada para Inglaterra. Irá servir como criada em Tyneford, uma casa de campo de uma família inglesa antiga. Os pais de Elise pertencem ao círculo artístico de Viena, e a jovem, que cresceu num ambiente privilegiado, vê-se numa situação difícil. Não só tem de lidar com a dureza de um trabalho a que não estava habituada, enquanto sente saudades da família, como na verdade não pertence a nenhum dos lados da casa. Não é realmente um dos empregados, mas também não é uma hóspede de alguém com quem eventualmente se cruzaria durante a sua antiga vida. Ainda assim, Kit Rivers, o filho do patrão, não deixa de simpatizar com ela e criam uma amizade especial.

Com esta  premissa, o livro teria tudo para me agarrar, mas, infelizmente, a nível de "enredo" - se é que se pode dizer que tal existe a meio do livro - desiludiu-me. No entanto, vamos por partes.
A acção decorre numa época conturbada, e ler sobre alguém refugiado noutro país com poucas ou nenhumas notícias da família dói. Além disso, a guerra é capaz de alcançar mesmo o "refúgio campestre" que é aquela zona, e foi interessante ler sobre o dia-a-dia dos que aguardam pelo desenvolvimentos do conflito, enquanto se identificam acontecimentos como o resgate dos soldados de Dunkirk pelas embarcações inglesas
Gostei dessa ambientação de época e da voz narrativa de Elise. Natasha Solomons não é a querida Kate Morton, mas há que valorizar o esforço que fez para Elise nos contar a sua história e descrever a paisagem idílica de Tyneford. Só o primeiro parágrafo do livro é fantástico.
À parte isto, enquanto lia o livro não consegui colocar de lado a sensação de algo de errado se passava. Ou melhor, algo de "forçado". 
Para já, vamos sendo lembrados ao longo da leitura de que não estamos a lidar uma história feliz. Há sempre ali uma iminência de tragédia, mas tanta antecipação retirou o efeito surpresa quando a desgraça ocorreu de vez. Pelo menos, comigo foi o que aconteceu, porque ler acontecimentos imaginados por Elise que sei estarem ali apenas para baralhar um pobre leitor nem sempre resulta à segunda ou terceira vez...
Depois, senti-me aborrecida durante a leitura da segunda metade do livro, e não me parecia ser o suposto. Entretanto, quase no final percebi qual era o meu problema com ele. É o "enredo". Ou seja, até meio do livro, a protagonista vai reagindo aos acontecimentos que a rodeiam  e toma decisões que têm consequências - o que é esperado de qualquer protagonista, de qualquer história - e de facto fui impelida a ler, pois existia "uma história". Depois, simplesmente, "coisas acontecem", cenas do dia-a-dia aparecem, Elise lá vai tomando as suas decisões - do género de preparar um baile ou levar o almoço ao senhor Rivers - e pronto. 
Eu sei que é suposto o livro tratar sobre um romance, e não um mistério ou uma aventura. Por isso, é provável que o problema seja meu. Chegar ao final de uma sucessão de cenas só para ver se a protagonista se casa, ou com quem se casa, nem sempre me compele a ler - sem outro tipo de "plot" a envolver o casalinho, então, costumo achar dispensável - e a verdade é que o final me foi previsível. Bonito, sim, principalmente depois de me forçar a ignorar a sensação de "estranheza" sobre uma certa ligação amorosa que achei só "esquisita", mas previsível.
Com muita pena minha, "Uma Casa de Família" desiludiu-me, e acabei de o ler com a sensação de alívio de quem vê um cliente demasiado falador a sair da loja.

Sinopse

 E vocês, já leram o livro? Qual foi a vossa opinião?
Boas leituras!

terça-feira, 13 de março de 2018

"A Confissão da Leoa", Mia Couto

Em "A Confissão da Leoa" a aldeia moçambicana de Kulumani fica vulnerável ao ataque de leões e a administração política precisa de resolver tal problema. Arcanjo Baleiro, o "último caçador", é seleccionado para a caçada e regressa juntamente com um escritor, Gustavo, que pretende relatar o caso. Enquanto o leitor acompanha o diário do caçador, tem também acesso aos escritos de Mariamar, a irmã da última vítima dos leões, que se apaixonou por Arcanjo anos atrás, mas que sonha abandonar a aldeia.

Este romance é baseado num caso real de ataques de leões que o escritor acompanhou,  mas como se pode esperar, é uma história onde o mito e a superstição andam de mãos dadas com assuntos prementes, desde a política e a caça, até à condição da mulher. E simplesmente, adorei-o.
É um livro para ler devagar, para saborear o estilo de escrita do autor que se "apropria" das palavras e lhes dá novos usos. É fantástico como Mia Couto consegue pegar nelas e dispo-las exactamente como quer para nos transmitir exactamente o que pensa. Fiquei fã.
A história em si mantém o toque de realismo mágico esperado, mas como dizia antes, aborda temas prementes, principalmente sobre a condição feminina, já que na aldeia Arcanjo e Gustavo depressa são levados a perceber que deveriam caçar mais do que os animais. Além disso, a mulher e a maternidade estão aqui destacadas, e Mia Couto não nos deixa esquecer a forma como em Kulumani - e em tantas outras zonas, tantos outros países... - a mulher é relegada para um plano inferior ao do pai/marido. Torna-se uma criatura que não tem voz, que não se atreve sequer a sonhar, que no fundo, como nos aponta Mariamar, não "vive".
No final, fiquei com a ideia de que para se caçar o leão/monstro é preciso ser-se pior do que ele, e a verdade é que nenhum animal selvagem iguala a maldade do homem. E mais não digo.

Ler a "A Confissão da Leoa" foi uma experiência de leitura excelente, e recomendo-a, sem dúvida.

Sinopse

E vocês, já leram o livro? Qual foi a vossa opinião?
Boas leituras! 

Um adágio que chamou a minha atenção...

quinta-feira, 1 de março de 2018

"Laços de Sangue", Pamela Freeman

Há livros que acabam no nosso coração de uma forma surpreendente. Este "Laços de Sangue" chegou à minha estante depois de uma feira do livro, há anos atrás. A maioria dos leitores conhece estes casos. Uma pessoa está a revirar os volumes disponíveis na bancada e depara-se com um que até lhe chama a atenção. O livro está a um preço acessível, mas sendo o primeiro de uma trilogia cuja continuação não foi publicada por cá prefere deixá-lo para trás. No entanto, acaba por regressar à feira e não consegue ignorar o dito livro e acaba por o levar consigo. Por uma ou duas vezes lhe pegou, já em casa, e voltou a guardá-lo na estante. Um dia decide dar-lhe a oportunidade e descobre que era mesmo daquela leitura que estava a precisar.

É que "Laços de Sangue" conseguiu ser uma lufada de ar fresco - literalmente. Nele conhecemos Bramble, uma jovem com o seu quê de selvagem que prefere a companhia dos animais e o dia-a-dia na natureza,  e que ainda tem o sangue antigo. Sendo neta de um Viajante, revolta-se contra a forma como o seu povo é espezinhado pelo povo de Acton, os invasores que há mil anos atrás conquistaram aquelas terras à força, massacrando e marginalizando os habitantes originais, que se vêm desapossados das suas propriedades e obrigados a uma vida vagueante pela Estrada. Quando Bramble mata um dos homens do Senhor da Guerra foge para se salvar e precipita uma cadeia de acontecimentos que mudam o seu próprio destino. 
Ash viveu como Viajante desde sempre, mas apesar de ter aprendido cada letra das canções que os pais interpretam ao longo da Estrada, não pode cantar. Sente que nunca pertenceu a lugar nenhum, até ser aceite como aprendiz de segurança de Doronit. O problema é que o preço é matar...
Para além destas personagens, ao longo do livro vamos encontrando Saker, um Vidente das Pedras em busca de vingança, e  vamos conhecendo a história de algumas pessoas com quem os protagonistas se cruzam. Estas últimas partes podem não adiantar de muito para o enredo, mas sem dúvida que o tornam mais rico e ajudam o leitor a ambientar-se com a cultura dos Onze Domínios.

Esta primeira parte da trilogia apresenta-nos ao universo dos Onze Domínios com toques típicos de fantasia, onde gente como Bramble e Ash, ainda é capaz de ouvir os deuses ou ver os fantasmas, mas que é retratado de uma forma tão natural que senti que lia algo mais semelhante ao realismo mágico - se é que tal se pode dizer de um universo que não é nosso, e que de "real" tem apenas a mesma velha "humanidade", com a suas virtudes e defeitos. Fiquei assim com um fraquinho por este livro, onde a atmosfera me lembrou a trilogia "Os Pilares do Mundo", de Anne Bishop, e as descrições vívidas das cidades e da natureza  nos fazem tomar a Estrada com os protagonistas, enquanto convivemos com a sua dor e os seus anseios. É que o tema que permeia o livro não é novo, nem há-de envelhecer: a destruição de uma cultura por um invasor. Sendo a autora australiana não sei até que ponto tal é coincidência.
Só tive pena que mais uma vez é contraposto o povo moreno oprimido ao conquistador alto e loiro, apesar de lógico e de facilmente associável à "realidade". Para além disso, outro aspecto um bocadinho negativo foi o facto de "certos" fantasmas - digamos assim para evitar o "spoiler" - poderem decair num elemento muito fantasioso. No entanto, para comentar melhor tal aspecto, teria que ler os seguintes livros, e se gostasse, o mais certo era perdoar tal coisa. 
No geral, gostei mesmo muito deste livro. Providenciou-me um excelente escape da realidade, mas com alma, e sem dúvida que gostava de conhecer o destino final daquelas personagens. Vou ficar com saudades, e estou tentada a adquirir a versão original...
E vocês, já leram este livro? Qual é a vossa opinião?
Boas leituras!

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

"Limões na Madrugada", Carla M. Soares

Neste que é o mais recente romance de Carla M. Soares acompanhamos Adriana Branco, uma portuguesa educada na Argentina que regressa ao país para desvendar um mistério familiar.
A protagonista crescera sem conhecimento do que levara o pai a abandonar Portugal tão subitamente e, no fundo, sem se importar tanto com tal facto. Um dia recebe o telefonema de um advogado do Porto com a notícia de que é a única herdeira da sua tia, que fez questão de lhe deixar uma carta que a perturba. Adriana acaba por se sentir puxada para o outro lado do oceano, não só para receber os quadros inquietante que o tio pintara, como para perceber que pessoas eram realmente os seus avós e, na verdade, para se descobrir a si mesma.

Como se pode esperar de uma tal premissa, este é um romance misterioso, que nos impele a ler para também nós desvendarmos os segredos da família Branco. Escrito num registo ligeiramente diferente de "O Ano da Dançarina", tem uma linguagem quase lírica, pela voz da protagonista, que torna a leitura agradável. Para além disso, o facto de não estar composto de forma cronológica leva o leitor a descobrir a história de Adriana a pouco e pouco, como se tal também se tratasse de uma série de quadros. Esta característica prendeu-me à história, até porque Adriana consegue ser uma personagem complexa - não o somos todos? - que, à semelhança de tantos de nós, também se pergunta quanto terá realmente herdado do seu pai e do seu avô.

Sinopse

Limões na Madrugada é o tipo de livro que se lê de forma compulsiva e só tenho pena de não ter mais páginas. De qualquer forma, providenciou-me uma boa experiência de leitura, com o aroma do limão sempre presente e "sombras" adicionadas à mistura - as dos quadros e as que vivem dentro das pessoas. É o livro ideal para quem procura um bom entretenimento, rápido e que "pareça" leve. É que, no fundo, a história que os quadros herdados por Adriana contam de "leve" tem pouco.

E vocês, já o leram? Qual é a vossa opinião?
Boas leituras!
 


quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Livros que ficaram a meio em 2017

No ano passado voltei a cair no meu mau hábito de abandonar leituras. Eu sei que devia insistir em continuar a ler um livro que me aborrecesse, ou para o qual não sentisse o mínimo de afinidade, mas já reparei que muitas vezes um livro menos bom foi lido numa época que não o pedia. Ainda assim, há sempre aqueles casos de que aquela leitura não é para mim, e prefiro deixar de insistir.

Regressaram à estante para mais tarde:

"Cloud Atlas", de David Mitchell : é um livro que quero muito ler, principalmente desde que vi filme. Segue uma estrutura muito peculiar, pois está dividido em várias "noveletas", mas na altura pedia uma história mais "tradicional" e preferi deixá-lo em "repouso" para o aproveitar melhor.

"A Informadora", de Lindsay Davis: é um romance policial ambientado em Roma durante o Império. Deve ter sido a segunda vez que lhe peguei e teria tudo para uma leitura leve e com um toque humorístico, já que  a protagonista/narradora tem a sua piada, e sendo de época, puxava a minha atenção. O problema é que a escrita era de facto "leve" e não me captava a atenção. Não queria desistir de vez dele, pelo que prefiro guardá-lo para outra ocasião.

"O Alienista", de Machado de Assis: é uma novela que pede uma leitura rápida, mas algo na história não me agarrou. Talvez a ideia seja mesmo mostrar um protagonista louco, que aponta os outros como loucos e não o sente ele próprio, mas prefiro lê-lo um dia, talvez. Não tão depressa.

"O Terceiro Gémeo", de Ken Follet: estava super curiosa com este livro e acreditem, continuo a estar. Gosto do tom de conspiração que por ali paira, mas embirrei com a protagonista e comecei a piscar o olho a outros livros. Fez-me "alguma" impressão a personagem defender o rapaz por quem tem um fraquinho da acusação de violação da melhor amiga... Dá para perceber que provavelmente a protagonista tem razão, mas pedia-se mais explicação para isso do que o que o instinto lhe diz, certo? 
De qualquer forma, quero lê-lo para tirar as teimas - e porque o tema me chama muito a atenção...

Desisti mesmo de:

"A Marca das Runas", de Joanne Harris: perdi belos dias de leitura a insistir em continuar a lê-lo, mas a verdade é que aquele toque de fantasia no início teve a sua piada. No entanto, não vi ali qualquer sentido. Acho que Joanne Harris tentou criar um universo próprio baseado nas lendas nórdicas, onde os deuses estão adormecidos e uma organização muito similar à Inquisição se digna a exterminar a magia, mas faltou ali "qualquer coisa". Para já, era demasiado familiar com a trilogia de "Os Pilares do Mundo" de Anne Bishop, mas sem a mestria desta última, pelo que nunca me pareceu "real". Nunca me senti transportada para lugar nenhum e depois aquelas personagens... Não eram humanas, nem eram realistas, e talvez lhe achasse alguma piada na pré-adolescência, mas nem os toques sobre mitologia nórdica me encantaram. É um livro estranho, e não da maneira engraçada. Desisti dele de vez.

E vocês, deixaram leituras a meio no ano passado ou insistiram para as acabar?
Boas leituras!

 

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

"Admirável Mundo Novo", Aldous Huxley

Neste "Admirável Mundo Novo" a sociedade tornou-se aparentemente "perfeita". Todos estão satisfeitos com o lugar que lhes coube na sociedade. Foram divididos por castas e educados/condicionados durante o sono para serem perfeitos no seu lugar. Não ambicionam outros postos porque tal nem lhes passa pela cabeça. Todos podem também ter acesso ao soma, a droga da felicidade e um escape do dia-a-dia, tal como o cinema sensorial, ou as actividades desportivas. Todos pertencem a todos, as relações íntimas são aconselhadas desde cedo e ninguém conhece a solidão. Também ninguém envelhece ou adoece, e a morte não é um assunto tabu. Ninguém tem encargos com a família, porque tal foi abolido. Ninguém se casa, nem ninguém nasce de forma vivípara (a heresia!) porque são reproduzidos e manipulados em laboratório em massa, tal como qualquer produto. Portanto, nesta sociedade não há desemprego; não existem greves nem intrigas entre funcionários, porque todos estão satisfeitos; não precisam de religião e vivem no Presente. E de tão feliz, que isto parece, torna-se assustador.
A verdade é que cada um deles é apenas uma peça da engrenagem da sociedade, e podem ser produzidos em massa (nosso Ford!), existindo mesmo conjuntos de gémeos Bokanovskizados que ocupam todos um sector.
Assim, os cidadãos são fabricados, adquirem e usufruem os produtos que fabricam e mesmo depois de mortos são reaproveitados. É isso que a vida de uma pessoa vale. Menos que nada, porque assim que uma morre, "n" vidas estão prestes a ser decantadas. 
São escravos, mas felizes nessa escravatura porque o prazer lhes é permitido e com tanta actividade para "sentir" em grupo, quem é que tem tempo para se sentar sozinho e começar a pensar? Até porque "pensar" sobre o meio onde vivem lhes é algo estranho. Nem sequer têm conhecimentos sobre outro sector que não o do trabalho, porque não foi para isso que foram condicionados. 

Acontece que de tempos a tempos há indivíduos que dentro do grupo se destacam, como é o caso de Bernard Marx, a quem, por acaso, deram uma estatura baixa de casta inferior, e não a altura de um alfa, e que se habituou de tal forma a ser diferente que aprecia a solidão. Ou do amigo Helmholtz, que gostava de escrever sobre algo que importe. Ambos são "estranhos", porque querem "sentir" e não ser apenas mais um número do "rebanho".
Bernard apenas se sente atraído por Lenina e convida-a  para ir a uma reserva onde vivem "índios", zonas fora da civilização onde as pessoas ainda vivem de forma ancestral - e que muito choca a rapariga. Aí encontram Linda, uma beta que teve uma ligação com o D.I.C., o Director da Incubação e do Condicionamento, e que se perdeu naquela zona anos atrás. Acontece que engravidara e levam-na de volta para a civilização juntamente com o filho, John. É este último, que cresceu posto de parte pelos selvagens, mas versado em Shakespeare através de um volume velhíssimo, que destaca tudo o que de negativo tem este "admirável mundo novo".
É que aquelas "admiráveis criaturas" não conseguem ver para além do seu condicionamento, muito menos conseguem lidar com emoções. Não vêm Beleza na natureza - não a vêm de todo, aliás - e nem têm arte ou literatura. Sem emoções, tal é impossível. Todos os seus desejos são satisfeitos, pelo que não sofrem por "amor". Tal não existe. Não amaram uma mãe, como John, e as ligações com outros são apenas físicas.

E assim, a sociedade deles é perfeita, estável. Porque um trabalhador feliz, é um bom trabalhador. Um trabalhador satisfeito com o que tem não ambiciona mais e não desestabiliza a sociedade, porque não quer o que não pode obter. Anula-se o indivíduo a favor da massa, anulando o que faz dele "humano", no fundo. Aqui o cidadão pertence ao auge da civilização, mas tal será o auge da "humanidade" sem emoção, sem "amor"?

"Admirável Mundo Novo" é um livro que recomendo, sem reservas, claro. É perturbador. Está escrito com um leve toque humorístico - onde até a escolha de nomes ou cargos o demonstra - que "maquilha" o seu lado negro de distopia, mas leva-nos a reflectir. O mais curioso é que passados tantos anos sobre a sua publicação, não estamos assim tão longe de todo o processo de condicionamento que torna o individuo apenas uma "peça" da "máquina" que se auto-regula. E pareceu-me também uma aviso sobre as tendências de uma sociedade de consumo, onde o objectivo de vida do indivíduo se torna adquirir o próximo produto do mercado...


E vocês, já o leram? Quais são as vossa ideias sobre aquele "admirável mundo novo"?
Boas leitura!