quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Boas Festas!


A época do Natal é das minhas preferidas do ano. Gosto da nostalgia intrínseca; da forma carinhosa como desejamos “boas festas” aos outros. Gosto das músicas de Natal. Gosto das luzes da árvore de Natal.
Sei que o Natal é quando o homem quiser e que devia ser todos os dias porque neste época é que nos lembramos dos outros, dos tios que estão longe às crianças que não têm a sorte de ter uma infância. E não é bom lembrarmo-nos deles, uma vez que seja?
Seja. O Natal é das minhas épocas preferidas. Gosto do cheiro a canela das iguarias que a “mamã” prepara, segundo receitas antigas daquele caderno cheio de nódoas de massa de bolo, farinha e carinho guardado religiosamente. Gosto de saber que passei mais um ano na companhia do “papá” e de ver o mano a tentar adivinhar presentes pelos embrulhos. Dezembro tornou-se duplamente especial e gosto dessa coincidência.
E gosto da paisagem do final de tarde, quando aquela luz muito clara dá os últimos passinhos no campo.
Gosto do Natal.

E assim, aproveito para desejar umas boas festas a vocês, seguidores/leitores/alguém da blogosfera que por aqui passe. Feliz Natal, malta! E umas óptimas leituras!

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Dizem que o final de 2014 se aproxima e que certos livrinhos ficaram a meio

Nos primeiros anos em que tive o blog nunca fiz balanços anuais de leituras. Talvez um pouco por preguiça, a quem eu devia erguer um altar, talvez também porque não sentisse grande necessidade de o fazer.
Este ano é diferente. Acontece que tive a sorte/azar de arranjar um emprego onde pude colocar as leituras em dia e onde leituras mais pesadas puderam ser bem aproveitadas.
Foi também um ano para pensar se valia a pena manter o blogue, já que aquela dita "deusa" nem sempre me dá a vontade de me ligar à internet ou vir escrevinhar qualquer coisa, algo a que me devia dedicar.
Sorte é que tenho um namorado e uma amiga que me incitam a escrever, e lá se renovou o Voyage.
Este cantinho sobre viagens literárias vai também começar a ter publicações de outro teor - nem que seja para o manter activo e me manter entretida.
 
Tenho estado a publicar a minha opinião das leituras destes últimos meses. Das leituras completas, claro. Acontece que muitas vezes, ou não é o momento certo para lermos certos livros, ou simplesmente, não temos a mínima paciência para o desgraçado e acabei por deixar seis a meio.

 

Foram eles:

- "Rapariga com Brinco de Pérola", Tracy Chevalier:

O eterno livro a meio. Pego-lhe, gosto do estilo de escrita, mas depois acho muito triste ler sobre alguém que está sempre a trabalhar. Levo-o para o trabalho, leio parte na pausa do trabalho e depois acho muito triste porque a Griet está sempre a trabalhar e a patroa é uma chata. Chatos dos patrões…Agora que tenho mais tempo livre espero conseguir terminá-lo em breve, porque é um livro que vale muito a pena.

- "A Mãe Terra", Jean M. Auel:

Tem um bom fundo de pesquisa, e tal nota-se. Podemos aprender aqui muito sobre os nossos antepassados, desde a forma como se agregavam em comunidades à sua religião, e à forma como “co-habitavam” (ou não) com os nossos primos Neanderthais. Acho-o muito interessante, mas a protagonista hoje seria apontada como uma Mary Sue. Tudo bem que sobreviveu sozinha, e tanto conviveu com os Neanderthais como com o Zelandoni, mas a sério que ela é que tem sempre de ter as ideias luminosas? É que até é ela quem domestica um lobo e cavalos, mais ninguém o tinha feito até ali… E, digamos, que tem passagens um pouquinho aborrecidas. Prefiro lê-lo quando tiver mais paciência para poder aproveitá-lo melhor.

- "A Um Deus Desconhecido", John Steinbeck:

Outro eterno “a meio”. Gostei do estilo de escrita, gostei das personagens, do tema, mas chego sempre ao mesmo ponto e perco o interesse. É mais um que está à espera de um ponto em que o aprecie melhor.

- "Rosa de Inverno", Nora Roberts:

Este tem título de telenovela e uma história comigo de conto de fadas. Ora então reza assim:

“Era uma vez um livro minúsculo que vivia numa papelaria algures num recanto de Portugal. Havia uma leitora que por ali estava de fim-de-semana e, por acaso, não tinha levado livros com ela. A leitora ainda franziu o nariz ao livrinho, mas o namorado da dita incitou-a a comprá-lo, até porque custava apenas uma moedinha e ela o podia ler dali a um bocado, caso ficasse aborrecida ao pé do mar.

A leitora preferiu aproveitar a areia, o sol, o mar e a companhia do namorado e guardou o livrinho na bagagem. O livro minúsculo foi assim chamado às suas funções apenas dali a umas semanas, para entreter a sua dona.

A leitora começou a achar alguma piada ao início e ao seu quê de conto de fadas. Depois, revirou os olhos porque o príncipe do livro queria logo ali comer uma rainha, e a rainha era muito fria e não estava pelos ajustes. Depois começam a ser amigos e a leitora ainda ficou com esperança de que o livrinho acabasse por encerrar uma história bonita. Apesar das passagens de diálogos de fazer rolar os olhos que por ali habitavam.

Até ao ponto, em que os protagonistas têm uma discussão, porque a rainha quer que o príncipe, que está debilitado, monte um cavalo porque não se importa de ir a pé. Manda-o montar porque “sou uma rainha e tu não passas de um príncipe. Farás o que te digo”. Ao que o príncipe se nega a tal e responde “Sou um homem e tu não passas de uma mulher (…) farás o que te digo”.

(…. Nora?! Really? )

Depois há por ali uma adaga que aparece porque a rainha se indigna, mas a discussão passa logo para o tópico de que ele “quer é ir para a cama” com a rainha e a rainha manda-o ir para a cama com a criada. E a leitora mandou os protagonistas para um sítio, a escritora para outro e o livrinho ficou remetido à estante.

Até hoje ninguém sabe se o princípe chegou a ir para a cama com a rainha, mas segundo algumas páginas desfolhadas continuam em acesa discussão.”

- "O Beijo dos Elfos", Aprilynne Pike:

Foi-me oferecido por uns amigos, incluindo a querida Di, há uns anos. Adorei o gesto de me oferecerem o livro, ainda mais quando, pelos vistos, contém elfos ou fadas (sorriso rasgado). Comecei a lê-lo numa noite de insónia. O enredo tem a sua piada e pareceu-me promissor, mas não tenho muita paciência para ler sobre aulas na secundária...

- "O Terceiro Anjo", Alice Hoffman:

Deste até estava a gostar. Tem algum mistério e personagens interessantes, que se debatem com algum problema moral. E tem um fantasma. Porque o deixei a meio? Estava na altura a trabalhar num hotel e é estranho ler passagens num hotel quando se está de folga. Manias, digam antes...

Já leram alguns destes? O que acharam?

Por agora tenho estado a ler "Espada que Sangra", de Nuno Ferreira, e "O Físico", de Noah Gordon. Ler vários volumes ao mesmo tempo foi a novidade deste ano. Era um pouco céptica em  relação a isso, mas revelou-se muito mais eficaz do que deixar a estante apinhada de livros "a meio".
 
Para 2015, espero dar despacho a livrinhos que já marinam na estante há um tempinho, e ser tão surpreendida como em 2014. Eu e a Spi, do Delicias à Lareira temos um desafio em preparação. Aguardem notícias!

Boas leituras!
 


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

"Escritos Secretos", Sebastian Barry


Não quero revelar muito da estória de "Escritos Secretos". É um livro com algum mistério, pelo que acho mais interessante que qualquer leitor vá descobrindo o que está “escondido”.
Neste “Escritos Secretos” temos acesso aos escritos do Dr. Grene, psiquiatra de um asilo na Irlanda que tem de redigir relatórios sobre os seus pacientes que vão ser transferidos para outo edifício. No entanto, acaba não só por desabafar sobre a sua vida privada, como por se interessar por uma paciente em particular: Roseanne, a paciente mais antiga do asilo, quase centenária. Pena é que não se saiba porque foi internada…
Por outro lado vamos acompanhando os “escritos” de Roseanne, que redige as suas memórias às escondidas.
No fundo, este foi mais um livro que li este ano sobre a memória, neste caso, a memória traumática, que não é a mais correcta, nem detalhada. Acabou por também ser um livro sobre recordações, como elas nos assaltam e magoam.
Em relação ao mistério fulcral, a certo ponto achei-o um pouco previsível e até poderia parecer irreal, mas tem um toque de “conto de fadas” de que gostei.
Foi um livro bem tocante, sem ser “lamechas”, e só tive pena de não lhe ter pegado mais cedo. É que o desgraçado apanhou muito pó antes de lhe pegar há uns meses atrás...
 
Já o leram? O que acharam?
Boas leituras!

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

"Os Pilares do Mundo", Anne Bishop


Antes de mais deixem-me avisar que tenho uma relação de amor-ódio com os romances de Anne Bishop. A sinopse pisca-me sempre o olho, acabo por comprar o primeiro da trilogia, acho piada ao mundo/reino onde a acção se desenrola, adoro a forma como a autora consegue criar uma atmosfera própria, mas as personagens não me cativam o suficiente para continuar a ler os outros livros.
Acho que é agora que tenho de me esconder atrás do muro antes de se apedrejada… Perdoem-me fãs das personagens da Anne Bishop!
Foi com algum receio que comecei a ler os "Pilares do Mundo". Ainda por cima parecia que ia encontrar algumas semelhanças com o ciclo "As Brumas de Avalon" criado pela querida Marion Zimmer Bradley – ah, que saudades da Morgaine! – já que abordava o sagrado feminino e o respeito pela natureza.
Adorei a atmosfera do livro e o universo criado, claro, mas demorei algum tempo até me entusiasmar realmente com a leitura. Primeiro não estava a ver onde é que a linha de acção iria levar. Fomos apresentados à maldade do Inquisidor-Mor, que não quer deixar nenhuma bruxa (ou nenhuma mulher) viva nesta terra e aos Fae, os Senhores que comandam forças e animais (ou melhor dizendo, uns tipos arrogantes que vivem descansados em Tir Alain e só visitam a terra para comer/ter aventuras com alguma tipa que se cruza pelo caminho e só se preocupam quando o seu adorado mundo começa a desaparecer - literalmente). E somos apresentados à querida protagonista, Ari, uma bruxa simpática que é mal vista na aldeia e teve um “crush” pelo tipo erradíssimo.
Quando Lucien, o Senhor do Fogo Fae, entrou em cena revirei muitas vezes os olhos e, pela primeira vez, adorei que existisse um triângulo amoroso. Odiei a arrogância de Lucien...
A minha personagem favorita acabou por ser a Ceifeira, uma Fae adorável que é vista pelos outros sempre com algum receio, ou não estivesse responsável por colher as almas. É uma personagem curiosa e arguta e acho que influenciou parte da minha opinião positiva do livro.
No entanto, li-o com muito gosto. Foi fantástico descobrir que ligação havia entre Fae e bruxas, ou entre outras personagens. Houve revelações que me apanharam de surpresa.
Além disso, apresenta-nos mais um Reino fantástico criado por Anne Bishop, onde ainda há quem saiba que a Mãe Terra merece ser respeitada, que somos todos filhos dela. Tem umas boas mensagens não só sobre o sagrado feminino, como até sobre ecologia. Mais uma vez a autora perpassou alguma da nossa realidade para lá, deste o desrespeito pela natureza ao desrespeito pela mulher. A mulher que no livro é apontada pelo Inquisidor como fraca, pouco inteligente, apenas um objecto a ser manuseado pelo homem; a mulher apontada como um ser dado à luxúria para tirar o homem do seu bom caminho; como um ser susceptível de ser manipulado pelo Mal. Nada que, infelizmente, não continue a ocorrer… Enfim.
Portanto, faço uma vénia a Anne Bishop pelas mensagens transmitidas no livro e pela história que me conseguiu agarrar. Esta trilogia vou ler. E talvez volte a tentar ler as outras.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

"O Carteiro de Pablo Neruda", Antonio Skármeta


Li este livrinho em horas, de tão entusiasmada que fiquei. Não estava à espera de gostar tanto. Centra-se na relação de amizade entre o carteiro da Isla Negra, Mario, um rapazote, e o único habitante da ilha que recebe correspondência, Pablo Neruda, o poeta.
Amizade que se forma quando o rapaz se apaixona por Beatriz e deseja escrever-lhe poesia para poder aproximar-se dela – já que a mãe da miúda é uma megera. A amizade que Mario e Pablo encetam através dos seus esforços para conquistar Beatriz é realmente ternurenta.
Antes de prosseguir, deixem-me avisar: à boa moda dos livros de escritores latino-americanos, nesta obra qualquer acontecimento toma ares de lenda! E isso é delicioso…
A história é baseada em factos verídicos, e torna-se angustiante quando a política mete a patinha e somos levados até àquele final. Gostava de ter sabido o que aconteceu a Mario na realidade - ou talvez prefira não saber.
Só tenho a apontar uma coisa, que nem deve ser erro do Skármeta ou do tradutor, mas das letras gigantes da edição que li: há frases que tão longas que se estendem pela página e me perdi.
À parte isso, e voltando ao que interessa, só tenho que recomendar O Carteiro de Pablo Neruda. É especial. Relata momentos especiais, como quando lemos/ouvimos a gravação que Mario envia a Pablo, sediado em Paris e com tantas saudades da ilha que lhe envia um gravador para que registe o que o faz sentir em casa. É um livro com uma história de amor e amizade e, no fundo, pareceu-me um hino ao próprio Mario.

Para recomendar, sem dúvida.
 

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

"Em Busca do Carneiro Selvagem", Haruki Murakami


Em Busca do Carneiro Selvagem, de Haruki Murakami, foi um dos primeiros livros do escritor. Sou fã e, como todos os fãs de Murakami, é quase impossível falar apenas de um livro. O escritor japonês tende a inserir sempre certos elementos nos seus livros e isso é fantástico! Eu e a S Pinelli, já falámos disso no Delícias à Lareira, caso estejam interessados em dar uma olhadela. Basta um clique.
 
Foquemo-nos, então, apenas neste livro, por agora. Sendo um dos primeiros, a informação é nos dada com mais detalhe; é tudo mais explícito, mais palpável. No entanto, senti-me um pouco perdida enquanto lia o livro. Parecia que nada fazia sentido. Porque iria uma organização embirrar com uma foto de uma paisagem com carneiros? E o que tem de tão especial o carneiro com um estrela no dorso? E porque foi a tal foto enviado pelo Rato, o amigo de infância do narrador/protagonista?
No fundo, tal como em “Moby Dick”, de Herman Melville, é a busca por um animal especial que vai dar o mote à acção. Será também a busca do protagonista por si próprio, talvez?
E no fim, o que fica?
Leiam o livro e depois expliquem-me também as vossas teorias…
 
 
Em relação aos elementos “murakamianos, apenas o narrador foge à regra. O protagonista causa alguma estranheza. Apesar de se caracterizar a si próprio como uma pessoa desinteressante e aborrecida, consegue ter uma visão aparentemente irónica do que a rodeia. Também se divorcia da mulher, o que escapa aos típicos protagonistas deste escritor. Normalmente é o pai que se divorcia e que sofre com a traição da mulher.
Os restantes elementos, ou parte dos que identificamos, estão lá:
- ouve-se música jazz;
- o narrador faz-se acompanhar por um livro. Sendo este um romance detectivesco, não será de estranhar que esteja a ler “As Aventuras de Sherlock Holmes”;
- uma das personagens tem problemas de relacionamento com o próprio pai, sentindo-se humilhada e rebaixada por ele, um pouco à semelhança de “Kafka à Beira Mar” e “1Q84”;
- há uma namorada com uma personalidade única e um dom peculiar – uma personagem amorosa, deixem-me comentar;
- fala-se sobre suicídio. Este também é um tema recorrente do autor, o que leva à teoria de, em certo ponto da sua vida, terá sofrido com a perda de um amigo que suicidou. Já em “Norwegian Wood” se foca nisso;
- existe um Líder Supremo, que está a morrer. Lembrei-me logo do Líder da seita em “1q84” e de Jonny Walker de “Kafka à Beira Mar”;
- existe um gato! Mas só a meio da acção é que recebe nome, sequer;
- também se fala sobre o cristianismo, algures;
- personagens desaparecem e reaparecem mudadas – “claro!”, oiço os fãs exclamar;
- uma “entidade” pretende mudar o mundo, um bocadinho à semelhança do Povo Pequeno de “1q84”;
- a sensação de irrealidade e a referência a um mundo paralelo – a que o protagonista apelida de “mundo dos vermes”, onde as “vacas procuram tenazes” – permeia o livro. Não terá o protagonista entrado para uma outra realidade?
Sobre este último ponto, que tanto me fascina, destaco uma passagem sobre o reflexo do protagonista no espelho que ilustra este “elemento”. É deliciosa! Saquem dos vossos volumes e naveguem até à pag. 336…
 
De “Em Busca do Carneiro Selvagem”, não posso dizer que é o meu preferido do autor, até porque fica um tanto aquém de “Kafka à Beira Mar” ou da trilogia “1q84”. No entanto, acho que é sempre positivo lermos as primeiras obras de um escritor de que gostamos e poder observar a sua evolução. E foi mais uma vez uma boa experiência de leitura surreal. Recomendo-o!
E vocês, caros seguidores, já o leram? O que acharam?
Boas leituras!

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Acerca do infame artigo do sr. José António Saraiva ou Pelos vistos ainda temos muito sutiã que queimar

Encontrei um comentário a este artigo enquanto navegava entre blogues numa pausa. A autora de um blogue publicou um excerto do dito texto, que comecei a ler como se de um artigo irónico se tratasse. Tenho vivido numa toca nestes meses - os russos bem nos podem sobrevoar que só sei disso 4 dias depois - pelo que não me apercebi logo que estava a ler um artigo de opinião publicado no jornal Sol... 
Quando li o artigo na íntegra fiquei apática. Nem raiva consegui sentir. Apenas tristeza. É tão triste que haja alguém que ainda pense assim, principalmente tendo esse  “alguém” acesso a um órgão de comunicação social!
E mais! Ser o próprio director!
É triste. E ridículo.
No fundo, o sr. Saraiva faz uma “análise social” a uma qualquer crise familiar dos dias de hoje, apontando a emancipação feminina como a causa disso. Como se divórcio, a toxicodependência, o suicídio e o diabo a quatro fossem consequências de as mulheres saírem de casa para trabalhar! E chegarem a casa “estafadas”, e resmungarem com os maridos e não darem atenção aos filhos, que coitadinhos “têm de ir” para a escola, porque a mãe já não fica em casa com eles, e no meio daquilo, elas querem é ficar a falar com os colegas de trabalho até às tantas e cometer adultério. Tudo isto é, segundo o “sôtor”, culpa do movimento feminista.
Antes de mais, acho que o que este senhor escreveu está desfasado da realidade. Devia ter lido uns estudos, ou no mínimo consultado a Wikipédia primeiro, ou ter falado com algumas pessoas da idade dele para perceber que isso da mulher sair de casa para trabalhar já não é novo. Ou sou eu que vivo noutro mundo, ou o sr. vive dentro de uma bolha, como acontece a tanta gente que nasce em berço de ouro.
Ou sou eu que sou um bicho raro, descendente de uma longa linhagem de mulheres que também se esfalfavam a trabalhar para por o pão na mesa. Fosse na agricultura ou como operárias, ou até a costurar roupa de outros, essas mulheres também trabalhavam, e não ficavam em casa a tratar só de tarefas domésticas e dos filhos. Os filhos, esses, aliás, iam sendo criados por irmãos mais velhos ou outras miudinhas, e assim que largassem fraldas também iam trabalhar.

   "As Respigadoras", J. F. Millet, sec. XIX

Não era qualquer franja da sociedade que se podia dar ao luxo de manter a mulher em casa. E muitas vezes, tal como hoje acontece, se ela estava em casa, era porque o marido não a deixava sair de lá – muitas vezes tal é acompanhado de violência física e psicológica. Violência!!!
Por isso, em primeiro lugar não percebo porque é que o “sôtor” associou que a mulher só saiu de casa para trabalhar a partir do movimento feminista e da emancipação feminina quando há séculos que tal acontece…
Em segundo lugar, a forma incomodada como apresenta o feminismo cheira a mofo. Queimaram-se sutiãs e cortou-se o cabelo? Também ouvi dizer que houve sufragistas quem apresentaram o buço à laia de bigode com orgulho. No entanto, cá para mim, o movimento – ou movimentos - não tinham o objctivo de transformar a mulher em homem, como o Saraiva refere algures. Tinham como objectivo elevar a mulher à categoria digna de “ser humano”, dar-lhe direitos e oportunidades equalitárias.


Acho que este sr. devia ter estudado melhor o tema, ao invés de dar apenas ouvidos ao pai. Meia população portuguesa ficou com a ideia de que o seu progenitor, apesar do seu bom gosto literário, e de, “até” gostar de Lídia Jorge, feminista, ser o chefe de família lá de casa e assim é que Deus manda. Porque, pelos vistos, os homens só seguem o discernimento do próprio pai, segundo a seguinte passagem do artigo: 

"As mulheres chegam a casa estafadas ao fim do dia de trabalho, não tendo paciência para os filhos nem para fazer nada. Muitos maridos protestam – e elas reclamam (justamente) com eles por não ajudarem. Só que os homens resistem, pois nunca viram os seus pais dividir as tarefas caseiras."

Então mas os homens não pensam por si? Regem-se apenas pelo que o pai faz? E os homens que cozinham em casa, e os que ajudam a mantê-la limpa, e que mudam fraldas? São uns “desviados”?
Francamente…
Como se não bastasse todas esta baboseira, o “sôtor” identifica uma passagem de uma entrevista a Lídia Jorge, em que a escritora relembra com nostalgia a infância, com a nostalgia por aquele “paraíso” perdido, onde o marido é rei e senhor da casa, e a mulher está lá, a deixar o cenário limpo e a tratar dos gaiatos. Lembram-se daquela imagem que figura nos livros de História, quando estudamos o Estado Novo?


Mais um pouco e sente saudades da PIDE e defende que se retire o direito de voto às mulheres…
E depois, ainda tem o descaramento de perguntar se as mulheres de hoje são felizes! Mas não são as mulheres um ser humano, dotadas de liberdade de escolha? Não são as mulheres, como ser humano que são, todas diferentes? Decerto que as mães e donas de uma casa que saem para trabalhar durante a semana lhe respondem que sim, que sentem felizes, que sentem completas e realizadas. Do mesmo modo, que as que escolhem ficar em casa lhe respondem que sim, que são felizes, que se sentem completas e realizadas. E as que são solteiras e vivem felizes no T0. E as que não são mães e as que são.

Como é que ainda é possível um homem sentir-se chocado por uma mulher ambicionar ter um emprego, ou subir na carreira? É assim tão repugnante?
Será este o velho discurso que cheira a bafio e peúgas húmidas que defende que cada ser humano deve seguir a sua natureza? Que a única ambição da mulher é ser “mãe”? E “cuidar do marido”, seja lá o que isso signifique? Já agora, porque não defende que nos devemos reger apenas pelas tarefas que nos eram destinadas na Pré-História? É que se seguirmos por aí, acho que mais valia este “sôtor” levantar o rabinho da cadeira e ir caçar mamutes…

A conversa já vai longa e ainda há muito a dizer. No fundo, tenho pena deste homem, e dos que seguem esta mentalidade atrofiada e retorcida. São a prova de que mesmo na sociedade ocidental ainda há um longo caminho a percorrer para que homens e mulheres sejam vistos como iguais.
Só espero que este artigo levante mais polémica que a mudança de cara da “Bridget Jones” ou as curvas da Athayde, porque palavras daquelas, são perigosas, e esquecemo-nos com facilidade que a mulher não é julgada apenas pelos fundamentalistas islâmicos. Pelos vistos ainda temos que queimar muito sutiã para que seja inadmissível ler daquilo num órgão de comunicação social.





sexta-feira, 24 de outubro de 2014

"Orgulho Asteca", Gary Jennings

Mesmo passado meses depois de lido, é um livro que continua comigo. Orgulho Asteca é marcante. É um livro que, afortunadamente vale o que vale tanto como documento daquela civilização, como também pelo seu protagonista. É memorável!
É daqueles livros tão bons que apetece impingi-lo a toda a gente e nem sei muito bem como opinar sobre ele, já que não quero dizer demais. Mas ao mesmo tempo tenho tanto para dizer sobre ele!
Lê-lo foi uma verdadeira lição da História e da organização social daquele povo – e outros que o rodeavam. Não foi por acaso que Gary Jennings passou 12 anos no México para aprofundar os conhecimentos sobre a cultura asteca. Conseguiu mostrar várias facetas da sociedade, principalmente através da história de vida de Mixtli, que passou de aprendiz/estudante a soldado e daí a mercador, com uma paixão pela arte de escrever - para este povo escrever era uma arte bem física.
Mixtli é um protagonista com uma vida mirabolante e bastante comovente. Por estranho que possa parecer tanto me fez sentir angustiada ou chocada, como me fez sorrir e esforçar para não rir à gargalhada.
No livro, Mixtli relata a sua história a padres jesuítas que são destacados pelo imperador Carlos de Espanha a transecrevê-la para que sua majestade possa conhecer melhor os astecas. Temos também acesso às cartas exasperadas que o Bispo, Juan de Zumárraga, envia juntamente com o relato. As reacções dos jesuítas perante o que ouvem e a sua indignação pelo que são obrigados a transcrever ou quando Mixtli compara a religião cristã e o catolicismo à religião seguida pelos astecas são momentos bem cómicos...
Foi uma experiência de leitura fantástica. Emocionei-me quando a vida de Mixtli toma um lado trágico, mas fiquei também chocada pelo que relata – e pelo que fez - ,mas não conseguiria nunca por o livro de lado. Tem passagens bastantes chocantes, principalmente para quem não espera que se aborde o canibalismo, e que só aguardava mutilações e sofrimento para o segundo volume, quando lá chegassem os espanhóis. Brrr!
No entanto, o que eu quero realmente dizer/escrever é: leiam-no! Aliás, devorem-no! É muito bom.
 
 
 
 

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

"A Ignorância", Milan Kundera


“A Ignorância” é de Milan Kundera: apetece apenas sugerir “leiam-no!” porque, em poucas páginas, tem tanto para nos ensinar…
Neste, chamou-me a atenção o fatalismo; como é possível que se cruzem conhecidos com conhecidos em comum e memórias completamente diferentes? É também sobre a memória. Uma mulher, Irena, cruza-se no aeroporto com uma antiga paixoneta, Josef. O homem para não a magoar finge reconhecê-la, mas não faz a mínima ideia de quem ela é/era.
É também um livro sobre a emigração forçada, por motivos políticos, e o regresso ao país a que, no fundo, se deixou de pertencer. E sobre muito mais.
 Quatro estrelas pelos ensinamentos!

Já o leram? O que acharam?
Boas leituras!



Curiosamente, o estilo de escrita lembra-me o de Murakami, ou vice-versa, pelo que lemos apenas o que é essencial nos seus romances, sem “distracções” (a dita “palha”, chamemos-lhe assim), e também pela forma subtil como introduzem “personagens-espelho” nos romances, personagens que reflectem outras, ou são os opostos de outras. Outro ponto em comum é a passagem que fazem para outras obras, sejam musicais ou literárias. Se em Murakami temos facilmente uma música que serve de ponte entre personagens - “Norwegian Wood” de Beatles -, ou abre caminho para outro mundo - como a Sinfonieeta de Janacek, em “1q84”-, em Kundera temos livros. Temos “Anna Karenina”, em “A Insustentável Leveza do Ser”, livro preferido da protagonista, e aqui, em “Ignorancia”, é o mito de Ulisses, que regressa a casa passados 20 anos, que marca o compasso à história. Muito interessante, de facto…

De volta a casa

Mais uma vez fiz um intervalo nas publicações deste blog. Desta vez deveu-se ao tempo no emprego - e à preguicite aguda de que sofro nas folgas.
Enquanto não estive por aqui, felizmente consegui manter a leitura em dia, e, portanto, nos próximos tempos vou colocando por aqui a opinião dos livros que fui lendo.
Como já devem ter reparado, o Voyage também vai ter uma leve mudança de visual, devido até à intenção de colocar outros conteúdos para além da minha humilde opinião dos livrinhos que leio.
Como também já podem ter reparado, desisti da TBR Jar... Não deu resultado. Gosto demasiado de ler o que me apetece na altura. Ler por sorteio lembrou-me, até, aqueles tempos de escola em que nos obrigavam/sugeriam a leitura de determinados livros. É tão aborrecido ler por obrigação...
Espero que tenham mantido as vossas leituras em dia e os vosso blogues actualizados. Por aqui, vou também manter o Voyage.
Bem-vindos a bordo de novo!


terça-feira, 21 de outubro de 2014

Entrevista a Nuno Ferreira


Pela Chiado Editora chega  até nós agora "Espada que Sangra", um livro de fantasia épica de Nuno Ferreira.
Aqui esta viajante de letras foi espicaçada pela S pinelli e entrevistou o escritor para podermos conhecer um pouquinho mais sobre o livro - e quem está por detrás da cortina.
Para ler a entrevista basta o vosso clique aqui.
Para ler um excerto de "Espada que Sangra" basta outro aqui (uma ideia bastante boa para apresentar o romance, deixem que diga).
Boas leituras!


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

De tartes e outros bolinhos

Entre os livros que lemos há, acima de tudo, bons momentos para partilhar.
O meu Huguinho teve a ideia mirabolante de aproveitar o resto do recheio de uma tarte. Do recheio de tarte chegámos a bolinhos de cacau e bolacha deliciosos!

Cliquem aqui para espreitar o resultado:
 
http://hmccorreia.blogspot.pt/2014/02/miminhos-de-chocolate.html
(resultado acima de tudo, de bons momentos partilhados com a pessoa mais importante do mundo)
 
E vocês, já inventaram receitas? Receitas com história?

Boas leituras! (e bons momentos!)

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Próxima leitura em sorteio

A minha cara Spinelli do Delícias à Lareira falou-me de uma ideia bem gira que encontrou noutro blog e que lhe chamou a atenção: a TBR Jar. A minha querida Diana do Conto sobre mim também já aderiu à ideia.
Ora, a To Be Read Jar consiste numa jarrinha onde colocamos papelinhos com os títulos que ainda temos na estante à espera de vez. Depois , sorteamos a próxima leitura. É uma ideia fantástica!
 
 
Muitas vezes dou por mim tempos e tempos a olhar para os volumes sem conseguir decidir qual deles escolher. Costumo dar prioridade aos livros emprestados, e vou deixando os mesmos livros "para a próxima".
 
Isso de deixar livros acumular pó sem os ter lido não parece muito feliz - e estar de pé tanto tempo em frente ao móvel numa sala fria como é a "minha humilde mini-pseudo-biblioteca" cansa e dá azo a constipações e tosse e etc.!
 
Pois bem, decidi tomar coragem (que isto de sortear a próxima leitura podia correr mal, porque no ultimo momento podia ter mesmo muita vontade de escolher outro) e criar a minha própria TBR Jar. Isto é, a minha TBR "Box".
 
 
Nesta caixinha que outrora guardou brincos-maiores-que-já-não-uso coloquei os títulos dos livrinhos que mais recentes; de uns com uns aninhos que ficavam sempre para trás; de alguns que ficaram a meio; de dois que adorava reler; e de alguns que andavam por lá à espera que um dia lhes pegasse.
 
Preferi escrever em papelinhos iguais para evitar qualquer memória relacionada com a cor. E pronto: foi guardar títulos, agitar, respirar fundo, rezar ao ursinho da TBR Box  - "não saias, "Historiador", "não saias "Pêndulo de Foucault" -  e retirar o nome do feliz contemplado...

Gostaram da ideia? Vão aderir?

"A Livraria", Penelope Fitzgerald

“A Livraria” deixou-me dividida. É daqueles livros raros com frases improváveis que nos dão vontade de reler, com personagens com que me identifico, mas com um final repentino que não faz jus à história.
Florence, a protagonista, é uma viúva de meia-idade que decide dar um novo rumo à vida. Como tal, na pequena localidade onde vive, decide comprar a Old House, uma mansão antiga – a cair de podre e assombrada – para a transformar numa livraria.
No entanto, esta decisão não é bem vista por algumas das pessoas que a rodeiam, como o bancário que trata do empréstimo, ou Mrs. Gamart, uma senhora influente que vai puxando os cordelinhos para tirar a Old House das mãos de Florence. Não simpatizei com esta personagem. Nem com Milo, de quem desconfiei desde que aparece. Por outro lado, Christine, a pequena ajudante da livraria, muito prática e sem rodeios, torna-se inesquecível.
É passado numa localidade pequena, com os típicos constrangimentos de um sítio assim e o facto da Old House estar assombrada deu um toque cómico – ou melhor, trágico-cómico – a algumas situações. Infelizmente, o livro centra-se muitas vezes na contabilidade da loja, o que se torna um pouco aborrecido. Além disso, tinha a expectativa de que fosse tratar assuntos mais polémicos, já que a sinopse destaca o momento em que Florence coloca o “Lolita”, de Vladimir Nobokov, à venda. Malditas sinopses!
De qualquer forma, é diferente e fornece uma boa leitura. Gostei da forma como foi escrito e, no fundo, “A Livraria” parece ser daquele tipo de livros que fica na memória.
Tenho pena que tenha acabado tão depressa.
 
Já o leram? O que acharam?
 
 
http://www.bertrand.pt/ficha?id=11219999

 
Boas leituras!

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

"O Mago - Aprendiz", Raymond E. Feist


Por vezes fico com a impressão de que os livros nunca são lidos da mesma forma em épocas diferentes. O livro, aquele objecto que fica tão bonito na estante, nunca muda. Nós sim.
Acontece que algures na minha adolescência pensei ter um gosto especial pela típica fantasia épica “à la Tolkien”. Bastava existir uma referência ao povo “élfico” para querer ler o dito livro. Entretanto esse gosto foi mudando. Por exemplo, li os dois primeiros livros da tetralogia “A Herança”, de Christopher Paolini e adorei-os! Não havia história mais perfeita do que a do rapaz e do dragão fêmea destinados à grandeza – mesmo que o enredo fosse semelhante ao do "Star Wars". O certo é que não consegui acabar o terceiro livro, “Brisingr”. Ficamos mais exigentes ou assim o pensamos?


“O Mago” chamou-me a atenção. Foi um bom regresso a essa época de elfos e dragões e feiticeiros, mas, neste caso, há um toque original. O mundo de Pug, o aprendiz de mago, é invadido por um exército alienígena!
Neste volume acompanhamos as aventuras dos amigos criados no torreão, Thomas e Pug, que pensam que as viverão sempre juntos; os primeiros amores; o interesse crescente de Carline a princesinha mimada pelo aprendiz e as rivalidades naturais entre adolescentes. No entanto, com o aparecimento dos “tsurani”, tudo muda.
Como primeiro volume é fantástico. Consegue transmitir uma boa apresentação das personagens principais e é, até, possível reparar no seu crescimento, seja em função da idade ou da força das circunstâncias, o que as torna mais credíveis. O final "O Mago"  consegue manter-nos suspensos em relação ao destino dos protagonistas, o que incentiva à leituras dos próximos volumes.
A presença de magia e dos outros povos típicos deste género, como os elfos e os anões proporcionaram-me uma certa nostalgia ao longo da leitura. Já tinha saudades.
Já o leram? O que acharam?

http://www.saidadeemergencia.com/produto/litfantastica-bang/fantasia-o-202346/o-mago-aprendiz/
 
 
Boas leituras!
 

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

"O Rei do Mercado", Juliette Benzoni

Este segundo volume da trilogia “Segredo de Estado” desiludiu-me. Para já, na primeira parte de "o Rei do Mercado" a protagonista cai na mesma armadilha dos vilões de serviço por umas duas vezes. Torna-se monótono. Depois, fiquei com a ideia de que a Sílvia é bastante tonta por continuar apaixonada por aquele cavalheiro que não se mostra interessado nela até a rapariga se casar com quem puxou cordelinhos para a tirar da prisão. A sério? Sente ciúmes? Pfff
De qualquer forma, vale pela forma como enquandra a acção na História de França e pelas reviravoltas da “estória”. Espero que o terceiro seja bem mais interessante.
 
Já o leram? O que acharam?
 
Boas leituras!
http://www.bertrand.pt/ficha/O%20Rei%20do%20Mercado%20-%20O%20Segredo%20de?id=2108200