terça-feira, 24 de abril de 2012

"Lituma nos Andes"

"Lituma nos Andes" foi o segundo livro que li de Mario Vargas Llosa. Gostei bastante do "A Tia Julia e o Escrevedor", mas agora fiquei mesmo fã. É uma obra que aconselho a qualquer leitor.
Conhecemos um pouco mais daquela época da história do Peru, e um pouco da cultura supersticiosa da população "serrucha" dos Andes - não esqueçamos que o país é um caldeirão de culturas muito interessante, à boa maneira da América do Sul.
Temos, portanto, a história de dois guardas civis do acampamento mineiro de Naccos, que se vêm a braços com três misteriosos desaparecimentos. Lituma, o mais velho, sente-se à parte naquele lugar onde os peões ainda acreditam em criaturas que roubam sangue e banha humana e que os deuses da montanha, os "apus", têm de ser aplacados com sacrifícios. Acredita que é ali que vai morrer e vive à espera do momento em que o grupo de guerreiros maoístas que percorre o Peru chegue ao acampamento e os assassinem. À noite, o guarda mais novo, Tomas, vai contado o amor, ou "desamor", que viveu com Mercedes - umas passagens bastante engraçadas, ou não se intrometessem os comentários de Lituma.
Entretanto, os guerrilheiros vão fazendo julgamentos populares, aproximando-se do acampamento, e personagens e estórias cruzam-se subtilmente...
Este é o tipo de livros que nos faz viver realmente a acção e nos faz reflectir acerca do radicalismo político, da loucura geral que se pode abater sobre as massas -  ou simples grupo de pessoas, como os clientes da cantina de Dioniso e D. Andriana, em Naccos - e do poder do medo, a par de algum humor, claro. 
Recomendo!


Sinopse:


Sob a ameaça constante dos guerrilheiros maoístas do Sendero Luminoso, o cabo Lituma e o seu adjunto Tomás vivem num acampamento mineiro das montanhas do Peru, onde inexplicáveis e obscuros desaparecimentos lhes prendem o interesse.
Paralelamente, a vida pessoal de ambos - sobretudo o reaparecimento de um antigo amor de Tomás -, intrometer-se-á profundamente na investigação.
O drama real das comunidades peruanas, nos anos 80, reféns da organização paramilitar de esquerda, e as dúvidas pessoais dos personagens cruzam-se durante todo o romance, tornando
Lituma nos Andes uma obra ímpar no percurso literário de Mario Vargas Llosa, mas também uma das suas mais ferozes críticas à violência estrutural que afectou o Peru durante tantas décadas.
Uma obra obrigatória em qualquer biblioteca. 


Edição/reimpressão:
Editor: Leya

quarta-feira, 11 de abril de 2012

"Carnaval em Veneza"

É impressionante como depois de esperar tanto tempo para ler "Carnaval em Veneza", de Michelle Lovric, acabei por me desiludir. Não era bem o que eu estava à espera...
A história é narrada por Cecília Cornaro, aspirante a pintora - e, ocasionalmente pelo gato de Casanova e por um gondoleiro, o que deu a sua graça -  que foi a última amante de Casanova e uma das muitas de Lord Byron e que relata as suas vivências. Mas, se com Casanova viveu um amor terno e generoso, com o poeta tornou-se obsessivo e sombrio (e continuo sem perceber como é que Cecília, uma mulher cheia de vivacidade se apaixona por ele de forma tão deprimente).
"Carnaval em Veneza" é também um pequeno fresco de duas épocas em Veneza, mostrando a transição de costumes, moda, mentalidade, política, etc., de um século XVIII festivo para um século XIX mais melancólico. O interesse do livro está, portanto, aqui, nos detalhes históricos e  na forma como a autora pegou em personalidades históricas e as mostrou tão naturalmente. E como fez da própria Veneza uma personagem.
Gostei, mas estava à espera de um outro tipo de livro, com mais acção e menos focado nos relatos das vivências das duas outras personagens. Talvez o problema tenha sido da sinopse...


Sinopse:

Uma história maravilhosa onde Casanova é o herói

Uma história sensual sobre dois amores que vão agitar até a mais decadente e sensual das cidades: Veneza. 1782. Cecilia, a filha de treze anos de um importante mercador de Veneza, é atraída por um gato para longe do seu banho e dá por si, nua, nos braços de Casanova, o lendário sedutor de mulheres. No seu leito, a jovem conhecerá o lado luminoso do amor. Duas décadas depois, já uma pintora de renome, Cecilia conhece o segundo amor da sua vida: um jovem poeta à procura aventura a qualquer preço. Ele é Lord Byron e, com ele, Cecilia irá descobrir o lado negro da paixão.A ternura e generosidade de Casanova versus a rudeza e secura de Byron. Dois amores que vão influenciar a arte de Cecilia e agitar a sociedade da mais decadente, sensual e majestosa das cidades: Veneza. 
Edição/reimpressão:
Páginas: 496
Editor: Edições Chá das Cinco

quarta-feira, 4 de abril de 2012

"As Serviçais"

"As Serviçais", de Kathryn Stockett, fazem parte daquela secção de livros que me deixam com a lagriminha no olho no final. Vi o filme primeiro, mas é claro que o livro foi bem melhor. 
Somos transportados para a Jackson, Mississipi, dos anos 60 - uma época e uma cidade em que "é normal" que brancos e negros não se misturem - pela perspectiva de Aibileen, Minny, duas criadas amigas, e Skeeter, a aspirante a escritora. Juntas vão dar início a um projecto que poderá ter consequências graves...
O livro aborda o tema da segregação racial nos sul dos EUA através da perspectiva das criadas e mães de família negras, do seu quotidiano, o que é pouco usual, e tem um bom enredo. E personagens convincentes: Aibileen, terna e maternal, que ensina outra mentalidade a Mae Mobley, a bebé da família para quem trabalha e vai mostrar o seu valor; Minny, a língua afiada que não tem um casamento feliz, apesar de ser uma mulher forte; Skeeter, a aspirante a escritora e jornalista que consegue ver a própria cidade com outros olhos; as "senhoras brancas", como a implacável Hilly, presidente da Liga e ex-patroa de Minny, Elizabeth, descuidada mãe de Mae Mobley e Celia Foote, que nasceu pobre e noutra cidade, não vendo qualquer problema em tornar-se amiga da criada.
Foi também interessante ler como a ideia da segregação estava tão enraizada, ao ponto de o namorado de Skeeter, Stuart, não compreender porque estava a tentar "mudar as coisas", quando "estavam bem, assim", ou de ensinarem crianças de que os negros eram "menos inteligentes" e que "tinham outras doenças". 
Não sei se poderemos incluir "As Serviçais" na mesma categoria de um clássico como "Por favor, não matem a cotovia", mas não é um romance qualquer. Tem valor e recomendo.




Sinopse: 

O maior fenómeno literário dos últimos anos nos EUA chegou a Portugal

Um romance que vai fazer de si uma pessoa diferente. Skeeter tem vinte e dois anos e acabou de regressar da universidade a Jackson, Mississippi. Mas estamos em 1962, e a sua mãe só irá descansar quando a filha tiver uma aliança no dedo. Aibileen é uma criada negra, uma mulher sábia que viu crescer dezassete crianças. Quando o seu próprio filho morre num acidente, algo se quebra dentro dela. Minny, a melhor amiga de Aibileen, é provavelmente a mulher com a língua mais afiada do Mississippi. Cozinha divinamente, mas tem sérias dificuldades em manter o emprego... até ao momento em que encontra uma senhora nova na cidade. Estas três personagens extraordinárias irão cruzar-se e iniciar um projecto que mudará a sua cidade e as vidas de todas as mulheres, criadas e senhoras, que habitam Jackson. São as suas vozes que nos contam esta história inesquecível cheia de humor, esperança e tristeza. Uma história que conquistou a América e está a conquistar o mundo. 

Edição/reimpressão: 2010
Páginas: 464
Editor: Saída de Emergência