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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

"O Devorador", Lorenza Ghinelli

Pietro tem 14 anos e síndrome de Asperger e por vezes tal condição arrelia o irmão mais novo, Dario. Apesar de o rapaz mais velho ser inteligente e bom desenhador, está preso no próprio mundo e a comunicação com os outros é limitada. Um dia, Pietro é atacado por dois dos rufias da escola e desenha a cena, observada por uma figura estranha. Desde aí, dão-se desaparecimentos de crianças no mínimo bizarros, e Alice, a educadora dele, sente que o caso lhe lembra algo da infância. Entretanto, acompanhamos também a perspectiva de Denny, um menino de sete anos de há 20 anos atrás que não tinha a vida facilitada nem na casa, nem na escola. Denny refugia-se na imaginação quando sente medo, como ao passar em frente do mais recente quadro pintado pelo pai...
Neste livro, os maus tratos sofridos pelas crianças são um tema recorrente. Tanto Denny como Filippo, que ataca Pietro, são criados por pais violentos, e o primeiro parece de alguma forma habituar-se a contar apenas consigo próprio.
Estas passagens cruéis tocaram-me: são revoltantes. O dito "lar" deveria ser um local de refúgio e carinho, não é assim? 
Por estranho que possa parecer o Homem dos Sonhos não me acicatou como esperava. É claro que o facto de provocar o desaparecimento dos miúdos mexeu comigo, mas a figura não me deu uma pontinha de medo. Esse foi um dos problemas deste livro.
Tinha uma ideia completamente diferente, mas assim que o folheei fui adiando a leitura. O estilo de escrita é composto por frases curtas e simples, e, se por um lado se foca apenas no essencial, e até se torna poética, por outro é demasiado leve. Quando leio gosto de me sentir imersa na atmosfera do livro, e nem senti que tal existia. Nem mesmo as cenas "gore" dos sonhos de Alice me agitaram. Nem sequer nenhum tipo de mistério me impeliu a ler. Aliás, nos primeiros capítulos senti que, a haver mistério, já estava todo desvendado e parti do princípio de que, se afinal já saberíamos aquilo à partida, é porque algo maior aí vinha. Por mim não veio, com muita pena minha.
É que o enredo é bom e tinha tanto potencial! Enquanto lia não conseguia deixar de pensar que se houvesse mais descrição, se houvesse uma atmosfera misteriosa em torno da figura aquele ia ser um livro mesmo do meu agrado. Também fico a pensar se não o deveria ter lido numa época que pedisse livros de rápida leitura - como o Verão - ou depois de ler outro tipo de romances. Uma pessoa habitua-se a estilos consistentes e depois...

Acabei por não me sentir inserida dentro do que era narrado e isso é tão frustrante quando acontece com um livro de que esperava gostar... Porque esta é uma história de fantasia sobre um monstro gerado a partir do ódio de uma criança. No geral, é uma espécie de "conto de fadas" distorcido, sombrio e triste. Gostei desta ideia, mas o resultado para mim foi um pouco fraco.

Sinopse
Já leram o livro? Qual é a vossa opinião?
Boas leituras

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

"1984", George Orwell

Querem ler algo que vos acicate, que vos deixe a pensar na nossa liberdade, na sociedade e no que ela se pode tornar? "1984" é uma boa sugestão. É um aviso. Ao ser escrito depois da II Guerra Mundial e ao satirizar os sistemas políticos totalitários, na época poderia ter impacto, mas hoje mantém-no. Não só porque continuamos em risco de cair em tal situação, mas porque existem temas intemporais que nunca é demais lembrar.

Em "1984", o mundo, pelo que Winston Smith sabe, divide-se em três potências, Oceânia, Lestásia e Eurásia, que guerreiam em permanência. Winston vive na Ocêania e é um dos camaradas do Partido Externo, mas duvida do que o envolve e começa a sentir-se revoltado com o sistema. Tem vislumbres da infância e acha que antes, a situação era diferente. Até a comida deveria ter um gosto mais saboroso, mas segundo o Partido, naquele momento atingiram um bom nível de vida. Como o explicar? Ou as mudanças que são feitas nos arquivos, onde até as pessoas desaparecem? E a guerra permanente em que vivem, será real? Pratica o primeiro acto de rebeldia ao comprar o diário onde quer "escrever para o futuro" e dá por si a esperar que algo destrua o Partido. Através dele, percebemos o tipo de sociedade em que vive e acompanhamo-lo a colocar em causa aquela ideologia.
O Partido regulamenta cada passo que dá, personificado pelo Grande Irmão, um rosto que o mira dos cartazes que pejam Londres. Pela cidade, no trabalho e no apartamento, as paredes estão equipadas com um telecrã, que transmite comunicados e música, e capta cada imagem e palavra dele. O Partido sabe sempre o que os camaradas estão a fazer, até no sono. O Partido regulamenta os casamentos, cujo fim é a procriação, e não a legalização de uma relação amorosa, já que os camaradas não devem ter tais laços entre eles. Dá preferência ao celibato, na verdade, e se há famílias, as crianças são instrumentalizadas logo cedo. São tão leais ao Partido que vigiam e denunciam os próprios pais.
Se o mundo em que Winston vive nos arrepia pela vigia constante, depressa depreendemos que o Grande Irmão vai mais longe, porque grande parte do seu objectivo passa pela supressão da individualidade e da liberdade de pensamento. O controlo dos meios de comunicação e da própria História é assustador, e feito de tal forma conveniente ao Partido que Winston nem tem a certeza de que o ano é 1984. Pode ser outro ano qualquer.  
Além disso, a mente deve adoptar a perspectiva do Partido. Se hoje deixam de estar em guerra com a Lestásia de quem agora são aliados suprime-se tal facto dos jornais - o trabalho de Winston - porque sempre se esteve em paz com tal potência. Se o Partido diz que 2+2=5, é porque 2+2=5. O Partido tem até nas mãos o projecto gramatical da novilíngua, mais apropriada a esta forma de pensar limitada e de acordo com os trâmites.
Assim, enquanto acompanhamos Winston, chocamos com os paradoxos daquela ideologia que controla as massas e somos levados a olhar bem para o nosso mundo. Um ponto que premeia o livro é o auto-controlo do pensamento, e não deixei de fazer associações com outro tipo de organização. Já repararam como a nossa perspectiva de uma acontecimento se altera consoante a ideologia que seguimos? O facto de pertencermos a uma religião - ou não - não nos mostra o mundo de maneira diferente? Todos conhecemos os perigos do fanatismo e neste livro é tão extremo que há que suprimir a própria memória consoante o que o Partido profere, porque é a instituição que encerra a única verdade. É o controlador de tudo, até das leis da Natureza, porque segundo ele, tudo existe através da consciência humana, e é o Partido que a controla... 
Temos, portanto uma visão assustadora de algo que se torna uma entidade por si. Dizem que quem controla a informação tem o poder. Se "apenas" isso já tem a capacidade de controlar a nossa perspectiva do mundo, imagine-se algo que pretende controlar o pensamento individual dos cidadãos para manter a "máquina" a funcionar, uma "máquina" que chega a ponto de querer limitar a linguagem para limitar a mente - sem termo apropriado para expor uma noção, como pensar sequer em tal? - e, com isto, controlar a população e manter o Poder.
Achei uma boa chamada de atenção para nos lembrarmos de pensar por nós mesmos.

É um livro que recomendo a todos pela mensagem que encerra. 

Sinopse

Já leram "1984"? Qual é a vossa opinião?
Boas leituras!

quinta-feira, 30 de junho de 2016

"Orgulho e Preconceito", Jane Austen

Cada vez mais acredito que há épocas ideais para certos tipos de livros. A leitura de "Orgulho e Preconceito" seria uma espécie de "releitura", pois já o tinha lido algures na adolescência - sabem como é, uma amiga leu-o, gostou, e naqueles tempos uma pessoa não podia ficar atrás. Ora, dessa altura só me lembro de ter achado a escrita um pouco petulante e o sr. Collins muito disparatado. Acontece que este livro já devia ter sido lido há uns meses para o Desafio de Clássicos, mas não estava com disposição para ele. Na semana passada, e por culpa de certo e determinado filme que comecei a ver - sim, "Pride and Prejudice and Zombies", pois claro -, dei por a pensar nele, lá na estante, abandonado ao pó.

Comecei a ler e não consegui parar. A premissa é previsível, mas muito engraçada. O sr. e a sr.ª Bennet têm cinco filhas, Jane, Lizzie, Lydia, Kitty e Mary, e a mãe está desejosa de as ver casadas. Logo por acaso, uma das casas vizinhas é alugada pelo sr. Bingley, um cavalheiro solteiro e com posses. Se ele é adorável, já o mesmo não se pode dizer do amigo, o sr. Darcy (ou das irmãs), mas parece interessar-se por Jane e o enredo corre a partir daí.
Adorei o tom da narrativa e aquela ironia muito delicada e subtil que permeia certas passagens, e não consegui deixar de me rir com algumas personagens. 
Gostei da crítica à sociedade, apesar do moralismo que também se sente no romance e que será fruto da época.Também gostei muito da forma como as personagens são construídas, e como percebemos as diferentes personalidades de cada. Lizzie é especial, Jane é amorosa e Lady Catherine é o snobismo em pessoa, acreditem! 
Sobre aquele certo e determinado cavalheiro, deixem-me dizer que percebo que seja fantástico que um homem abafe o orgulho por amor, mas apesar do comportamento de superioridade, acho que o dito senhor também era um pouco introvertido. Quantos de nós não damos por nós numa festa calados porque pura e simplesmente não temos jeito nem vontade de fazer conversa de circunstância com quem não conhecemos? Que as "haters" dele não me atirem pedras! Sabem o que se diz, "quem desdenha quer comprar"...

Já tinha lido e apreciado "A Abadia de Northumber", que satiriza os romances góticos da época, mas espero ler muito mais da autora. Acho que vou ficar fã.
Já leram? Qual a vossa opinião
Boas leituras!

P.S.: O meu exemplar ainda tem os actores da série da BBC, incluíndo Colin Firth como Mr. Darcy...

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Uma espécie de Não-Balanço Mensal que também é um Não-Plano

Passo a explicar: para quem acompanha o meu blog decerto já se terá apercebido que tenho alguma dificuldade em seguir um plano com rigor. Seja pelo tamanho da pilha planeada ou porque não gosto de me sentir obrigada a ler algo, o certo é que o planeamento muitas vezes se revela difícil para mim. Como blogger, ainda me sinto culpada. Sinto que se mudar de plano ou não o seguir estou a enganar os seguidores. Se não lhe contar como correu a leitura devido ao planeamento, idem.
Já tinha comentado isto com a Spi do vizinho Delícias à Lareira e portanto, por agora não vou fazer planos de leitura rigorosos. Acompanho o Desafio de Clássicos e partilho no grupo de discussão do goodreads alguma ideia de leitura para o Desafio Inverso, se for o caso, mas para já não coloco a listagem no blog.
Da mesma maneira, em princípio vou fazer um balanço dos desafios no final do ano, quando publicar um balanço de leituras. Já que são desafios anuais, acho que tem a sua piada.

Entretanto, digam-me: a meio do ano, como sentem que estão a correr os vossos desafios?
Por agora tenho notado que continuei a diversificar autores e géneros à semelhança do ano passado, o que muito me agrada...

Boas leituras!

quinta-feira, 12 de maio de 2016

"O Mago - Espinho de Prata", Raymond E. Feist



Sinopse

Há livros que conseguem deixar-nos bem divididos. Já não é a primeira vez que partilho por aqui que é impressionante como alguns nos conseguem entreter e ser tão vazios. Outros há que se podiam dividir em duas partes: uma primeira muito empolgante; e uma última em que detectamos facilmente algumas falhas. Este terceiro volume da The Riftwar Saga pertence a esta segunda categoria. Gostei muito de o ler, deixou-me empolgada com a dose de acção e misticismo que mantém, mas os últimos capítulos pareceram-me menos fascinantes.
Neste volume acompanhamos uma jornada, uma quest, bem ao estilo fantástico, liderada por Arutha em busca do antídoto para um veneno que deixou Anita às portas da morte. Arutha, no entanto, também corre perigo, já que é o alvo principal de um grupo de personagens misterioso.
Comecei a lê-lo com grande entusiasmo. Já conhecia as personagens e ainda por cima neste volume o Jimmy  Mãozinhas, um larápio de 15 anos, tem  um grande destaque o que insuflou o grupo da saga. Além disso, há uma atmosfera de perigo que incentiva à leitura e a promessa de acção constante.
Aliás, um dos pontos positivos do livro prende-se mesmo na acção que premeia as páginas. Não há tempos mortos por aqui, bem pelo contrário, o que apreciei. Outro ponto forte vai para a caracterização de diversas culturas. Adoro. Até os elfos têm origens diferentes do habitual nesta saga, como já tinha comentado, e cada vez fico mais curiosa com os Valheru, uma raça antiga muito mencionada.
Já um dos pontos negativos continua entre as personagens femininas que não passam de "namoradas" e "donzelas em perigo". Não consigo sentir nenhuma química entre Pug e a esposa. Nenhuma! Nem consigo ver Carline como a mulher impetuosa que é suposto ser - parece-me uma míuda mimada, apenas, e tenho pena disso. 

Atenção, caro leitor, o parágrafo que se segue contém SPOILERS
 
Outro ponto negativo prende-se com a nova ameaça que Midkemia enfrenta. Desta vez não um exército de outro planeta, mas sim algo mais negro e, diria, até imaterial. Se por um lado já se previa que os primos negros dos elfos, os moredhel, dessem problemas, por outro pedia uma razão mais forte do que a "mera" destruição da raça humana. Eu sei que na verdade é uma espécie de genocídio, algo real ainda nos dias que atravessamos, mas... tenho que me habituar a essa ideia para poder ler bem o último livro. 

Apesar disso, gostei do toque mórbido de certos soldados que mesmo mortos se levantavam e continuavam a lutar. Gostei mesmo muito da sensação de perigo que envolveu tais cenas!
Com isto, tenho de dizer que mesmo com os pontos negativos, é um livro de aventuras e gostei da leitura. Estou curiosa com o desfecho da saga. 

Conhecem o livro? Gostaram?
Boas leituras!

Opinião do primeiro volume, "O Mago - Aprendiz"
Opinião do segundo volume , "O Mago - Mestre" 

terça-feira, 3 de maio de 2016

Planos para Maio

Para este mês o plano está facilitado. Como partilhei convosco no último post, continuei a ler "O Mago - Espinho de Prata" inserindo-o na categoria de "livro impingido" do Desafio Inverso de Maio. A leitura tem avançado bem, pelo que o marcador se encontra já a meio do volume.
O Desafio de Clássicos propõe para os dois próximos meses a leitura de "Jane Eyre", de Charlotte Bronte, pelo qual tenho muita curiosidade, e que prefiro iniciar já. Para o Clube de Leitura pensámos em escolher um livro que tenha sido censurado, e a minha escolha recaiu sobre "As Vinhas da Ira", de John Steinbeck, que encontrei nesta lista.

"Os Escolhidos" do mês
Conhecem estes livros? O que pensam ler em breve?
Boas leituras!

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Balanço de Desafios Mensal # 2

Este mês, se bem se recordam, os meus planos para completar os desafios anuais Viagens à Lareira e a leitura do Clube assentaram numa escolha mais cuidada. O certo é que não tenho conseguido completar as duas categorias do Desafio Inverso e foi preferível escolher apenas uma. Por acaso, este mês não consegui acabar de ler "O Mago - Espinho de Prata", de Raymond E. Feist, mas vou conseguir inclui-lo numa categoria de Maio.Está a ser uma leitura recheada de acção e estou a gostar muito mais do que esperava.
O Desafio de Clássicos, pelo contrário, ficou atrasado. Consegui acabar "Anna Karenina", de Tolstoi, logo no início de Abril, porém não li "Orgulho e Preconceito", de Jane Austen, como previsto. Seria uma espécie de releitura, porque já lhe tinha pegado há uns bons anos atrás, mas não retive nada do que li nessa época, só do filme. Há uma semana e pouco, instalei-me no sofá e ainda li dois ou três capítulos, mas não me cativou, tenho que confessar, e tive receio de "embirrar" com o livro. Felizmente, gosto de acreditar que por vezes existe uma época ideal para cada obra. Vou mantê-lo na estante até que me "pisque o olho".
Pelo contrário, "Beloved", de Toni Morrison, foi lido e com muito gosto, para o Clube de Leitura.

E vocês, completaram os vossos desafios literários?

Boas leituras!

terça-feira, 5 de abril de 2016

"Ana Karenina", Leão Tolstoi

Este foi o meu livro de mesa-de-cabeceira dos últimos três meses. Agora tenho pena de ter deixado arrastar tanto tempo ao longo da leitura. Não digo que "Ana Karenina" foi uma má experiência, bem pelo contrário. As personagens conseguiam irritar-me, mas através delas o leitor pode tomar conhecimento de pontos de vista diferentes, o que é interessante. As cenas focadas em discussões de teor filosófico (e político, moral, religioso, etc.) tornaram a leitura mais lenta, mas, ao mesmo tempo, mais completa para percebermos o que estava em debate na época.
"Ana Karenina" é um grande livro em termos de realismo. Consegue conter uma boa crítica aos costumes da alta-sociedade da Rússia Imperial; a diferença entre a província e a cidade; e posso partilhar que também o considerei um livro sobre a busca da felicidade. Aquela a que aspiramos não marcará as nossas escolhas de vida? E a forma como procedemos para a obter não terá consequências?
Ana Karenina é esposa de Aleixo Karenine, um funcionário de altas honras do governo, e mãe de um menino. Bela e afável, é acarinhada pela sociedade, até iniciar um romance com o Conde Wronsky, jovem militar e "bon vivant", o que origina um escândalo previsível, tornando-a "indesejada" nos salões dos restantes. Com Wronsky é feliz, mas ao mesmo tempo, triste e culpada. Magoou o marido, mas ao afastar-se do filho também se magoa.
Para além da protagonista, ao longo do livro acompanhamos a busca de Levine pela sua felicidade, uma personagem que parece contrabalançar a descida de Ana. Proprietário de terras, prefere a estadia na província, longe dos preconceitos da sociedade, e detém-se em reflexões sobre as diferenças entre camponeses e aristocratas, a religião, a morte, a necessidade de escolaridade, etc. É apaixonado por Kitty, irmã de Dolly, a cunhada de Ana.
Esta última personagem assemelha-se ao arquétipo de uma esposa modelo. Foi - sempre, provavelmente - traída pelo marido, Oblonsky, mas evita ser levada pelas emoções e toma atitudes ponderadas, em prol dos filhos, principalmente. Como "uma boa esposa e mãe", são eles a sua prioridade como mulher. Já Ana, apesar da culpa que a assola pela relação extra-conjugal, é egoísta e emotiva, o que leva à decadência do seu "bom nome".
Ainda sobre as mulheres, achei curioso como são preferidas como seres ternos e religiosos, e assustador como é descrita a sua condição. Dividem-se entre a família e o que pretendem, tal como Kitty se subjugou à mãe num primeiro momento, por a princesa não ver Levine com bons olhos; e mesmo depois de casadas continuam sujeitas às condições do marido. Aliás, os próprios filhos pertencem ao marido - sejam dele ou do amante - o que torna as decisões da protagonista mais duras.
Por outro lado, dos homens espera-se poder social, e gostei da forma como é traduzida a vergonha de um homem que é traído e tenta manter as aparências para bem da sua posição.
No geral, as personagens perturbaram-me. Há as que anseiam pela riqueza e ascendem a postos cujo objectivo é desconhecido - os chamados "tachos" dos dias de hoje - e os que preferem jogo e "liberdade" a um casamento; e o que se designam como pessoas de "fé" e carácter e não temem intrometer-se na vida dos "amigos" com as suas "boas intenções" (se a Condessa Lídia se tivesse mantido longe de Karenine poderia o destino de Ana ter sido outro?).
Como retrato social, gostei de "Ana Karenina",para perceber não só ritos e costumes da época, como as ideias que eram discutidas. No início, parecia-me que as classes mais baixas eram vistas de forma demasiado simplória, mas não serão os seus comentários uma forma de ridicularizar a alta? Os camponeses chegam a ser invejados, por parecerem tão felizes mesmo durante o trabalho - sem o peso da "sociedade", talvez.
Apesar de ser um clássico - mais, um clássico russo! - o estilo de escrita mostrou-se mais simples do que esperava, e gostei de o ler. 

Já repararam como sabe bem ler algo que sabemos que tem qualidade? Até pode não ser um page turner; até podemos dar por nós desejosos de o acabar; mas sabe bem saber que sempre que lemos uma passagem, de algum modo, estamos a aprender. Gosto disso.

Sinopse

Já leram este livro? Qual é a vossa opinião?
Boas leituras!


Planos para Abril

Para este mês não resisti a formular mais um plano de leituras. 
Chegou à estante o livro de contos de Ray Bradbury "Teremos Sempre Paris", através da parceira Editorial Bizâncio, que será uma das prioridades. Como ficou combinado, para o Clube de Leitura há que ler "Beloved", de Toni Morrison, e espero pelo menos, no final do mês, estar já a ler "Orgulho e Preconceito", de Jane Austen, para completar o Desafio de Clássicos.

Prioridades
Para  descontrair este mês estou a planear completar apenas uma das categorias previstas do Desafio Inverso. Entre um livro com a acção localizada na nossa época e um livro de fantasia vou dar preferência à última proposta e provavelmente a minha escolha recairá entre estes dois exemplares:

 
Categoria de Fantasia

 
Continuar a leitura de uma saga que aprecio ou iniciar uma trilogia? Eis a questão...

Já leram algum destes livros? Gostaram? O que planeiam ler este mês?

Boas leituras!

sexta-feira, 1 de abril de 2016

"O Rapaz de Olhos Azuis", Joanne Harris

Se há livros que são um autêntico quebra-cabeças este é um deles.De tal modo que desde que o terminei sinto o cérebro a digerir o que leu, o que leva  a uma pequena pontada na têmpora. Estou a exagerar, mas a verdade é que até a dormir aquele final deve ter aparecido nos meus sonhos. Seja. Gosto muito de sentir esse efeito dos livros. 
Não posso adiantar muito sobre a história, já sabem, mas dou-vos apenas as linhas principais.
"Rapaz dos olhos azuis", ou "blueeyedboy", é uma expressão que pode ser traduzida na nossa língua como "menino da mamã". O protagonista do livro apresenta-se como B.B., ou blueeyedboy, não só pelos seus olhos azuis mas também pela forma como é visto pela mãe, Gloria Green de solteira. Tem dois irmãos mais velhos, Nigel e Brendan, o rapaz de preto e o rapaz de castanho; o taciturno e violento, e o apático. Os três irmãos estão habituados a usar sempre as mesmas cores, um sistema que facilita o tratamento da roupa pela mãe, que atribuiu roupa preta a Nigel, castanha a Brendan e azul a Benjamin. Por estranho que possa parecer, tal opção parece influenciá-los para o resto da vida...
No livro só temos acesso a entradas num site, o badguysrock, criado por B.B., que se descreve como um ser frio e calculista e gosta de escrever sobre os seus crimes. Nas entradas públicas que partilha com os restantes membros, o "exército de ratos" que o bajula, descreve-se na terceira pessoa e relata os problemas em casa desde a infância, o ódio do irmão mais velho e a opressão da mãe; e, claro, os planos de assassínio das senhoras parasitas da localidade. Nas entradas restritas, B.B. fala sobre a realidade. No entanto, qual é a realidade? O que é verdade e o que é mentira? Será mesmo um aspirante a assassino? Ou será tudo fantasia? E no fundo, quem é quem? Quem é a Emily White, a menina falecida a que se fazem tantas referências? E quem é Albertine que também escreve no site - e que também parece ter um elemento de branco no nome ("Alba", ou "Alva")?
As cores são um elemento forte do livro, o que é curioso, numa história tão negra - e obscura. B.B. partilha com o leitor um Dom que o aflige, a sinestesia, já que associa palavras a cores, cheiros e sabores. Isto torna o livro um "cocktail" de sentidos, algo que já é tão próprio de Joanne Harris, que aqui usa e abusa de comparações e consegue até descrever os sentidos de uma personagem invisual.
Neste livro, como leitores somos levados de uma teoria à outra e deixados na ignorância até percebermos a verdade. 
É uma espécie de conto de fadas distorcido e negro, onde há pessoas que foram ou querem transformar-se noutras e onde recordar pode ser perigoso. E no fundo, não é assim que funciona a Internet, onde estamos protegidos pelo ecrã e podemos adoptar a personalidade que quisermos?
Gostei muito. A certo ponto, fala-se sobre jogo de espelhos no livro. Acho uma boa caracterização do próprio livro.

sinopse
Já o conhecem?
Boas leituras! 

quinta-feira, 31 de março de 2016

Balanço de Desafios Mensal #1

Este ano comecei a encarar as minhas escolhas de leitura de forma diferente. Com dois desafios em parceria com o Delícias à Lareira, o Desafio Inverso e o Desafio de Clássicos, o Clube de Leitura, e o apoio de duas editoras, no mês passado decidi seguir um plano de leitura.
Bem sabemos que os planos nem sempre são seguidos à risca. Assim foi. O plano de Março ficou um bocadinho aquém do esperado.
Não consegui completar o Desafio Inverso já estes mês, com muita pena minha. Não voltei a tocar sequer no "A Lenda do Cisne" desde o dia em que o fotografei, e o "A Informadora" pareceu-me demasiado leve nas primeiras páginas. Prefiro ler algo do género quando estou mais cansada, ou durante o Verão. Entretanto, surgira a Maratona de Páscoa, e também não segui o planeado para tal. Comecei a ler "O Rapaz de Olhos Azuis", de Joanne Harris, inserido-o na categoria "livro que gostava de ler", e, por sorte, também se insere na categoria do "crime" do Desafio Inverso. Portanto, espero pelo menos completar uma categoria de cada nos primeiros dias de Abril - a fazer figas...

No Clube de Leitura, se bem se recordam, tinhamos decidido ler um Nobel feminino, e logo me lembrei que era uma boa oportunidade para "Beloved", de Toni Morrison - que também fez parte dos planos da Maratona. Como ainda não temos data agendada para a próxima reunião, espero que seja uma leitura para breve.

O Desafio de Clássicos está atrasadíssimo. "Ana Karenina" está já na recta final, mas por mais que me esforce não o tenho conseguido ler à tarde e com as "festividades" nem ao serão o tenho lido. Estou a gostar mais do livro e já simpatizo com algumas personagens, mas não me sinto compelida a lê-lo e acabo por o deixar em segundo - ou terceiro - plano. Por conseguinte, "Orgulho e Preconceito" está a ficar para trás. Só espero não atrasar todo o desafio...

E vocês, conseguem seguir o que planeiam?
Boas leituras!


quarta-feira, 2 de março de 2016

Plano de leitura para Março


Para Março estes três volumes fazem parte dos meus planos. Para completar o Desafio Inverso estou a pensar ler "A Informadora", de Lindsey Davis, que pressupõe uma série de crimes, e "A Lenda do Cisne", de Jules Watson, que me parece um romance mais carinhoso. Além deles, vou também dedicar-me a "O Indesejado", de Sarah Waters, que chegou hoje mesmo à minha estante com o apoio da Editorial Bizâncio.

Ainda tenho de acabar de ler o "Ana Karenina", de Leão Tolstoi, e de vez em quando leio um conto do "Boleia Arriscada", de Stephen King. Não assim tantas páginas por ler, acho...

E vocês, têm planos de leitura para este mês? Já leram algum destes livrinhos?
Boas leituras!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

"Propriedade", Valerie Martin


 
Sinopse

Este pequeno livro não chega a duzentas páginas, mas consegue ser marcante. É narrado pela protagonista, Manon, a mulher do dono de uma plantação de cana-de-açúcar no Louisiana de 1828. O facto de ser um livro centrado no tema da escravatura contado a partir da perspectiva de uma esclavagista foi o que o tornou tão interessante. Tal deixa o leitor "no olho da tempestade", a par de alguém que foi educado também numa plantação, que desde que nasceu é servido por escravos negros, que assume serem seres de natureza inferior e amoral sem nunca o questionar. Assim, damos por nós a acompanhar a acção a partir da sua forma de pensar, e deparamo-nos com diálogos sobre a venda e o preço de seres humanos como se assistíssemos a um diálogo natural entre vendedores de gado.
Não quero com isto comentar que Manon é uma personagem repulsiva, com quem antipatizamos facilmente. Ela é como é, porque era dessa maneira que a sociedade em que vivia se regulava e termos noção disso consegue dar-nos um murro no estômago.
A protagonista, no entanto, é uma mulher egoísta e infeliz. Vê o marido como um homem grosseiro, com quem mal consegue manter uma conversa ou mesmo qualquer contacto físico, até porque ele tem "o desplante" de manter como amante a própria escrava pessoal da esposa, Sarah. Para piorar a situação da protagonista, não gerou filhos dentro do casamento, mas na relação extra-conjugal, e Manon ainda se vê a braços com as críticas da própria mãe. Se há algo que deseja é ser independente, livre.
Assim, temos em braços duas mulheres que aspiram à liberdade. Porque não podemos esquecer que se os escravos são "propriedade" do dono, também à sua maneira a esposas o é, e mal tem direito a usufruir à sua própria "propriedade". No caso do falecimento de um parente, não ia logo a sua herança parar às mãos do marido, que muitas vezes a podia escoar rapidamente?
No livro, para além da história da protagonista, temos vislumbres sobre Sarah, contados numa espécie de "metatexto", porque a escrava não tem uma voz própria. É nas referências que Manon e outras personagens vão fazendo que percebemos qual é a vontade dela, o que também se torna interessante, porque da mesma forma que os "patrões" não compreendiam o que pensavam os seus "negros", também o leitor é mantido nessa perspectiva.
Achei "Propriedade" um bom retrato da sociedade do local na época e gostei muito da forma como está escrito. Valerie Martin consegue envolver o leitor na atmosfera do lugar apelando aos nossos cinco sentidos de forma que também ouvimos os passos pesados dos batedores nas escadas, e ainda nos presenteia com uma protagonista que nos deixa divididos. Não consegui deixar de sentir compaixão por ela, ao mesmo tempo que torcia por Sarah, por quem Manon fica obcecada.
Recomendo-o!

Já conheciam o livro? Qual é a vossa opinião?

Boas leituras!


 P.S.: Deixo uma pequena curiosidade sobre uma coincidência. Li este livro para completar a categoria de "romance de época" do nosso Desafio Inverso. Planeei ler para completar a segunda categoria, "livro passado no futuro", o "Órix e Crex", de Margaret Atwood. Bem, não é que numa nota final a Valentine Martin dedica este livro a Margaret Atwood? Fiquei atónita! São amigas, pelos vistos...