quinta-feira, 24 de setembro de 2015

"As Filhas do Graal", Elizabeth Chadwick

 
Era capaz de apontar este "As Filhas do Graal" como o meu preferido da autora, por me ter agarrado no início, mas como preferi deixá-lo em pausa por umas semanas, fica o segundo preferido.
Ainda assim, é daqueles livros que adoro. Tem um certa dose de misticismo, já que as protagonistas são descendentes de Maria Madalena e transportam capacidades de cura e de Visão, o que me agrada. Além disso, as personagens mantém-se credíveis, como a escritora nos vem a habituar.
De pano de fundo neste romance temos a guerra religiosa que opôs vários senhores franceses, a perseguição dos cátaros, que ficou apelidada como a Cruzada Albigense. O movimento cátaro seguia um ramo cristão muito diferente do que a Igreja Católica vinha a adoptar, já que consideravam que o Deus verdadeiro não lhes permitiria o apego a bens materiais; não ingeriam carne; acreditavam na reencarnação; dispensavam o casamento e, por sua vez, a própria reprodução humana, já que acreditavam que assim aprisionavam um espírito puro neste mundo material, que pertencia ao Deus do Mal. Negavam ainda alguns dogmas da Igreja e, como o número de adeptos crescia, estavam a tornar-se uma "ameaça" à "boa" fé católica. O mesmo de sempre.
Neste romance, Raoul é um senhor católico que se revolta contra o massacre imposto a pessoas com quem lidou durante a sua vida e Bridget, que presta o seu Dom da cura a quem dele necessita, sente um forte ligação com ele. A partir daí há uma série de escolhas das personagens que vão formar um ciclo perfeito no final enquanto tememos o destino deles.
Adorei a forma como o livro está escrito, já que é prestada uma grande atenção aos detalhes da época, desde técnicas de luta às refeições, o que torna a sua leitura um agradável regresso ao passado. Quase se sente o cheiro dos juncos que protegem o chão e o medo de uma batalha - e da fogueira - e acho isso incrível para um livro. Da mesma maneira existem dualidades bem interessantes. Há uma comparação constante entre o Bem e o Mal; o "Deus Católico" e o "Deus Cátaro"; a união de um par de personagens, e a união de outro.
Sei que sou suspeita no gosto por livros destes - época medieval e crítica à acção da Igreja - mas recomendo para quem procura bom entretenimento com História como pano fundo.
 
Já o leram? Qual a vossa opinião?
Boas leituras!
 
Sinopse
 


terça-feira, 22 de setembro de 2015

Pessoas que um leitor não compreende # 2

  • Tradutores desatentos

Sabem aqueles momentos em que estão a ler o vosso livrinho traduzido para a língua de Camões, e de repente se deparam com uma expressão, ou uma palavra que não se enquadra na passagem?
E depois dão por vocês a fazer o exercício de traduzir mentalmente para a língua em que o dito volume foi escrito. E a seguir, têm vontade de corrigir o próprio livro a tinta vermelha.
Eu percebo que as pessoas se enganem. Acontece. Percebo que provavelmente os prazos são apertados; que não seja possível fazer uma segunda ou uma terceira leitura para perceber se está tudo nos conformes, mas os erros são um pouco aborrecidos.
Imaginem que lêem uma caracterização sobre uma personagem. Como a aparência é a do o pai, etc., mas ainda bem que "gosta da mãe", e por isso é "assim e assado" como ela. Voltemos atrás. "Gosta da mãe"? Não haverá uma qualquer confusão com o "to like", e não será a personagem "como a mãe"?
Imaginem, além disso, que estão a ler um livro onde uma personagem decide escrever pensamentos. A seguir, ela pensa em escrever um outro jornal. E por isso, vão ter títulos que referem que o se vai ler de seguida é o dito jornal que a rapariga escreve. E não, ela não escreve notícias. 
É estranho, não é? Giro, giro, é que o livro era francês. E o que pode ser um "journal" em francês? Pode ser um diário.

Gosto muito de ler na minha língua materna, mas gosto de saber que estou a ler o que o autor realmente queria transmitir. Concentrem-se, tradutores, que eu gosto muito de vocês!

E vocês, leitores/seguidores, já se sentiram aborrecidos por alguma situação parecida?

Boas leituras!

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Viagens à Lareira 2015 - Setembro/ "Eu Sou a Lenda", Richard Matheson



Este é um "post" massivo sobre a leitura do desafio de Setembro do Viagens à Lareira 2015. Acontece que numa semana a concentração estava em baixo nível, e na seguinte esta Viajante esteve por outras paragens - yeahhh! - e portanto vou agregar a apresentação com a opinião deste mês.

O desafio era simples:a leitura de pelo menos um livro de um autor nunca antes lido. Tão fácil. Ou talvez não...
É que as estantes estavam repletas de novos autores que queria conhecer e a escolha era difícil. Acabei por seleccionar um livro que tinha curiosidade em ler e que, por acaso, era escrito por alguém cuja obra desconhecia, o "Eu Sou a Lenda", de Richard Matheson.
Acontece que já vi a adaptação cinematográfica, mas que já tinha lido na blogosfera que o filme e o livro eram bem diferentes. Acontece que são.
O meu conselho para quem viu o filme e quer ler o livro ou vice-versa é esquecerem que a história é a mesma. O livro foi apenas o conceito-base, portanto, se querem aproveitar bem a leitura nem pensem no filme, sequer.
Lembrem-se antes de que "Eu Sou a Lenda" foi publicado na década de 50 do século XX e que impulsionou a ideia do apocalipse zombie. Para quem, como eu, tem um fraquinho por histórias nesse cenário pós-apocalíptico é interessante ler o que pode ser considerado "a semente" do género.
Neste livro acompanhamos a rotina de Neville, o último homem numa cidade infestada por vampiros, que se dedica a reforçar a protecção da sua casa, a caçar mortos-vivos adormecidos e a sobreviver com uma garrafa de "whisky" por perto, principalmente quando as memórias  da família se tornam mais duras. Entretanto, Neville acaba por pesquisar sobre o vampiro, curioso com a causa da epidemia e da sua condição como o único não-infectado.
Gostei da forma como foi escrito, já que os pensamentos do protagonista se agregam com a narrativa, o que nos aproxima mais das suas mágoas. Da mesma forma há um bom ritmo entre as passagens sobre a rotina diária e as cenas acerca do passado, de modo a que certas surpresas sejam reveladas ao leitor no momento certo.
Sobre o final, só posso adiantar que finalmente percebi o título.
A edição que li traz também três contos que foram do meu agrado, pelo ritmo rápido e pelo enredo: "Nascido de Homem e de Mulher", "Presa" e "Perto da Morte". 
O primeiro foi o meu preferido pela perspectiva utilizada. É um pouco perturbador, tendo em conta que não é propriamente do género fantástico. Existe uma menção a "banha verde" que cai quando o ser que vive na cave é espancado pelo "papá", mas não deixo de pensar que ele não sabia o verdadeiro nome da cor.
O "Presa" supostamente é arrepiante. Temos uma mulher, com uma mãe um pouco possessiva, que compra como prenda para o namorado uma estatueta tribal que, supostamente, teria um espírito de um guerreiro aprisionado. Ao longo da leitura lembrava-me de filmes cómicos - defeito meu - mas o final amendrotou-me.
"Perto da Morte" deve ser o conto mais curto e mais tragicómico com que me deparei. É sobre o pedido de um funeral de um "viúvo" choroso ao cangalheiro. É óptimo na simplicidade.


Já conhecem Richard Matheson? Qual foi o novo autor que escolheram para Setembro?
Boas viagens à lareira!