sexta-feira, 29 de maio de 2015

É que não concordo nada com aquilo


 

NAO porque não concordo com aquilo. Porque acho uma deturbação da língua escrita, uma insanidade.
NAO porque não consigo escrever assim. Para o trabalho lá faço um esforço: deixo o corrector automático do programa “Word” fazer o trabalho dele. Deixo-o ser ainda “corrector” e não corretor, que nem consigo pronunciar a palavra como deve ser quando a leio.
Porque NÃO, não quero cortar letras das palavras. Porque é que os secretários deste país deixaram de escrever actas e passaram a ordenar ao leitor para atar os sapatos? “Ata”, fica ali escrito no cabeçalho. “ATA”, leio. “Ata”, mas ata o quê?
Confesso, obrigo-me até a escrever como aprendi a fazê-lo, porque tirar o “c” do “objecto” e da “correcção” e da “acção” é um acto de preguiça.
NAO porque já me obriguei a procurar um substituto para a palavra espectador, quando ainda estava na dúvida da grafia desta palavra. Porque me recuso a escrever um dia: “a sala encheu com os 400 espetadores originários do Egito que aplaudiram o documentário sobre a jiboia”. Porque um espetador é um objecto que espeta, como é óbvio, e não um objeto, que soa a dejecto. Isto é, dejeto. O que é um dejeto? Um “D” de jeito?
NAO porque eu pronuncio Egipto, e não “Êgitu”, e acho que alteraram regras a meio do jogo. Porque uma jiboia" não existe. O que raio é uma “jiboia”? Um boi feminino?
Que preguicite foi essa que atingiu a malta, que não só retira letras como tem o desplante de retirar acentos? Os gatos perdem o pêlo e agora terem pelo ou seguirmos pelo corredor vai dar ao mesmo. Depois, para piorar, já ninguém sabe se o baile pára ou se vamos para o baile. Experimentem vocês escrever: “Para o baile, diz o Duque, e a música para”. Ou então: “Para o carro agora! Para o carro, já! - gritou o Comissário”. Bem que os agentes da lei vão querer mandar parar os carros nos policiais que ganham as mesmas. Acho que até as personagens vão ficar confusas: “Então, mas é para mandar parar o carro ou para os mandar entrar no carro?”.
Devíamos parar com isto, mas vamos é todos de vez para o estado de preguicite aguda, é o que é. É que depois a nova grafia nem dá para escrever cartazes decentes. Imaginem os cartazes anti-AO com as palavras de ordem: “Para a Preguiça Geral! Já!”
 
Estão a ver? NÃO gosto nada. Uma pessoa até se podia habituar, mas é revoltante, porque parece que nos querem estupidificar. Ainda mais.
 

"Dune", Frank Herbert


“Dune” é genial. É apaixonante. É daqueles livros que nos tiram as palavras. Adorei.
Para já, começo por destacar o apêndice. É que “Dune”, um pouco à semelhança da literatura fantástica, é passado num sistema galáctico colonizado pelos humanos com regras próprias. E o planeta, Arrakis, também tem que se lhe diga… Ora, antes de avançarmos para a história em si, achei muito interessante ler o apêndice que nos introduz para questões que vamos encontrar, e dá mais rigor e credibilidade ao livro.
Sabemos de antemão que o Duque Atreides será traído em Arrakis, que a própria mudança da família para o planeta desértico é uma armadilha, e que Paul será um guia messiânico, o Muad’Dib. A partir daí acompanhamos o desenrolar da ação.
Já disse que adorei?
É um livro que nos deixa a pensar na religião e no destino, já que existe uma ordem que se dispôs a selecionar geneticamente casamentos para criar um Messias. Mas acima de tudo, achei que foi a importância da ecologia de um planeta e a capacidade humana de se adaptar as questões mais exploradas. Porque os Fremen sabem viver no planeta deserto como ninguém, num planeta onde a água é preciosa. E onde a “especiaria” é de tal forma viciante que ficamos na dúvida se alguém se viva em Arrakis um dia consiga sair do planeta. Da mesma forma, a importância do poder económico e a luta pelo poder continuam patentes nos seres humanos. Vamos ser sempre iguais, pelos vistos.
Do livro fiquei também marcada pelas personagens, com a Dama Jessica, fiel às Bene Geressit, mas mais do que um instrumento delas; com Paul, o Muad’Dib em crescimento, e os seus professores. Fiquei até com o traidor Yueh, que tem os próprios motivos para engendrar o que faz. Do vilão achei um pouco “cliché”, até descobrir o quão distorcido e nojento pode ser. Ah, e claro, a participação do planetologista, Kynes, também é marcante. É um homem que se dedicava a criar um ecossistema integrado que possibilitasse o aumento da água. Terá alcançado esse feito?
Em “Dune” achei engraçado notar-se a época em que foi escrito, os anos 60. Já tinha lido sobre isso num artigo de opinião que prometo divulgar aqui assim que o encontrar. Foi engraçado notar a tónica que é dada a estados alterados de consciência e a certas filosofias. Há seres humanos que conseguem controlar cada nervo do próprio corpo e, até alterar a decisão de outros? É bem místico…
Destaco também o estilo de escrita, que de tão simples se torna rico, sem necessitar de grandes descrições e dando-nos liberdade para imaginar armas e aparelhos futuristas.
Adorei, não estava à espera do que ia encontrar e quero continuar a ler os restantes livros. Até porque esta opinião me parece muito incompleta por não ter chegado ainda ao fim da história.
 
Sinopse
 

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Histórias de Livros # 1


Encontrei o livro sobre que falo hoje na Estação de Sete Rios, em Lisboa, um local que se mostra propício a histórias de livros, como vão perceber.
Foi depois de um fim-de-semana de visita a uma das melhores amigas que podia encontrar e, para comemorar, nada melhor que correr para a Feira do Livro que por lá costuma existir.
É claro que “Dune” me saltou à vista. Já tinha ouvido falar do livro, tinha curiosidade, e a última edição naquela altura ainda tinha um preço elevado. “Dune” foi um bom negócio. Comprei-o juntamente com “Dune 1 A – Muad’Dib” por 10 euros!
 
 
 
Achei a capa do primeiro volume um pouco estranha. Tudo bem que é uma imagem do filme, mas podiam ter-se esmerado. Mas perdoem-me, que estou a ser egoísta. Não podia pedir mais: tenho um exemplar de 1985 de “Dune” da antiga coleção Argonauta Gigante, o que tem um certo charme.
Só em casa é que me apercebi da dedicatória.
 
 
 
Aquelas palavras mexeram comigo.
 
Que tipo de amizade é que a oferta daquele livro firmaria? Terá o livro marcado um reencontro? Será que continuaram muito amigos? E porque é que um livro oferecido com tanto carinho acabou numa bancada de um terminal de autocarros mal cheiroso? Terá existido algum conflito?  Ou será que quem recebeu “Dune” não gostava afinal de Ficção Científica?
“Os amigos nunca se esquecem!”. Parece-me um "mistério" sugestivo.
 
E vocês, seguidores, também já adquiriram um livro com uma dedicatória que puxou pela vossa imaginação?

terça-feira, 12 de maio de 2015

The Hobby #5

"Dirty Paws", Of Monsters an Men



Para acompanhar as viagens matinais para o trabalho - e o Viagens à Lareira.

Boa semana!

terça-feira, 5 de maio de 2015

Viagens à Lareira 2015 - Maio





Caros leitores/seguidores, parece que o desafio literário do mês de Maio é Literatura Fantástica! A esfregar as mãozinhas! Ai que bom!
Nem de propósito, ficou este género para o mês consagrado a uma deusa pagã, a Deusa Maia, mãe de Hermes, uma deusa ligada à fertilidade. "Curiosamente", Maio é considerado pelo mundo Católico o mês de Maria, mãe de Jesus Cristo. Coisas. Mas vamos ao que interessa.
Para este mês a minha seleção recai sobre estes livrinhos:

Sinopse
Sinopse
Sinopse
Sinopse


Estou curiosa para ler a continuação de "Os Pilares do Mundo", de Anne Bishop e voltar a entrar naquele mundo. Sobre "Laços de Sangue", tenho a comentar que por várias vezes me cruzei com este livrinho. Da última vez não resisti e trouxe-o comigo. "Soa" bem. Entretanto, também quero voltar a ler Juliet Marillier e tive de adquirir mais uns livrinhos dela. Só tenho pena que agora as edições daqueles livros sejam tão pequenas. Enfim. O "666 Park Avenue" também me costumava piscar o olho, mas foi bom esperar até o preço estar baixo o suficiente para não pensar duas vezes. Vou tentar não tomar demasiadas expectativas.

E vocês, o que vão ler este mês?
Boas viagens à lareira!

"Doze Contos Peregrinos", Gabriel García Márquez



Este mês não foi o mais frutífero para o nosso Viagens à Lareira. Dos “Doze Contos Peregrinos" de Gabriel García Márquez apenas li quatro. De qualquer forma foram leituras que valeram por muitas, pelo que estou satisfeita comigo mesma.
Como explica o autor na introdução desta colectânea de contos - a que chamou peregrinos por terem passado por várias peripécias antes de saírem publicados - estes são  baseados em acontecimentos, sonhos ou histórias que lhe contaram passados maioritariamente na Europa. Foi engraçado reler algo do escritor. Tem uma maneira muito própria de tratar de forma banal coisas inexplicáveis, e gosto disso.
Estes foram os contos que li: 

“Boa viagem, senhor Presidente”
Um presidente no exílio viaja até Genebra para ser operado. O conto prossegue com o ponto de vista do presidente, que até preferiu ter sido deposto, e de um casal conterrâneo que se oferece para o ajudar – a um certo custo secreto.
Acaba por ser uma história sobre a velhice, ou não "chegasse o Outono naquele instante", e a mudança, e o certo é que no final há estados de saúde e opiniões alteradas.
Também achei interessante a tónica colocada na superstição, como é habitual nas histórias deste escritor. 
Estive sempre à espera de um final ou de uma revelação “surpreendente”. Tal não aconteceu, mas valeu pela qualidade da narração.

“O avião da Bela Adormecida”
Este conto tem uma história tão simples como isto: um homem fica encantado com a beleza de uma mulher que vê no aeroporto. Por sorte, fica ao lado dela no avião e enquanto cruzam o Atlântico não consegue tirar os olhos da “Bela”. Podia parecer obsessivo, mas a admiração e o encanto pela mulher são muito bem descritos. 
“Só vim fazer um telefonema”
Este é um conto opressivo no início. No final, fiquei a pensar em quem é que tinha razão. E que, se calhar, só somos malucos quando nos tratam como malucos. Ou melhor, é quando nos tratam como malucos que enlouquecemos.
Esta é a história de uma jovem mexicana em Espanha que, depois de visitar uns parentes, seguia viagem para Barcelona, para se encontrar com o marido. Tem uma avaria no carro e apanha boleia num estranho autocarro apenas ocupado por mulheres para poder ir fazer um telefonema. O problema é que quando chega ao destino das ocupantes é tratada como uma delas.
Entretanto, o marido assume que ela é que o abandonou…
Acaba por ter um veio cómico, mas é uma história aflitiva.

“Alugo-me para sonhar”
Ainda estou em dúvida se foi este ou o conto anterior o meu preferido.
Este parece ter sido baseado numa história vivida pelo “Gabito” e envolve o poeta Pablo Neruda e uma mulher que dizia conseguir sonhar o futuro de quem lhe pedia.
Estás escrito com uma estrutura curiosa, já que começa com a possível morte da mulher e acaba com o episódio central. E mais não digo para não contar a história toda.
Neste conto o “impossível” está muito presente, o que é fantástico.

E foi assim que completei o meu desafio. Foi curtinho, mas quero continuar a ler o livro.
Que contos leram no mês de Abril?

Boas viagens à lareira!