Este assunto não é novo: nós, seres humanos, conseguimos ser hipócritas. Já repararam como defendemos a diversidade, mas não temos problemas em apontar o dedo a quem é diferente? Damos por nós a concordar que todos os corpos são distintos, cada um é como é, mas no fundo continuamos a perpetuar o culto do corpo muito esbelto e a definir quem deve vestir a peça "X" e a quem o penteado "Y" fica melhor.
No entanto, o assunto não é a diversidade e sim o aspecto natural de um corpo.
Isto vem a propósito de umas fotografias da pessoa conhecida por Lady Gaga de férias nas Bahamas que vi numa certa e determinada publicação portuguesa sobre "celebridades" e gente "conhecida" que "nunca vi mais gorda" - tipo os descendentes da "nobreza" e afins.
Bem, estava a folhear a revista, e, confesso, a cuscar os supostos escândalos do costume, quando me deparei com as fotos de Lady Gaga sem retoques, mais rechonchuda do que o habitual que é mostrado e com sinais de estrias. E a o título versava qualquer coisa como "Lady Gaga de férias - pouco - sexy".
Eu não sou fã da cantora. Não gosto propriamente da voz dela e desconfio que as aparições "artísticas" que faz são apenas uma chamada de atenção - e fazem-me comichão as pessoas que vivem para atrair os olhos dos outros. Assim, não tive problema em congratular-me por Lady Gaga não aparecer escultural. Senti-me até mais bonita do que ela.
Depois senti-me hipócrita. A comparação deixa-nos tão felizes, infelizmente, e torna-se tão triste rirmo-nos dos corpos dos outros. Somos seres humanos. É normal que apresentemos corpos diversificados e que não sigam a linha que a sociedade nos ensina que é a ideal. Não somos andróides. A Stefani Germanotta é uma mulher, apenas. Aparecer com o corpo que tem seria apenas o normal, não é? Não seria pior mostrar-se toda "plastificada"? Nesse caso não ficaríamos também horrorizados? É que não percebemos porque gostam de pagar cirurgias que transformam "pessoas" em "bonecas" com grandes lábios, grandes maxilares, peles repuxadas em gente com a voz da bisavó.
E no fundo, a quem é que interessa se a tipa engordou ou não se exercitou? Estava de férias. Nas Bahamas.
Quem me dera:
a) Ter férias já marcadas;
b) Um dia sequer planear uma viagem às Bahamas!
Gostamos de perceber que os "deuses/celebridades" afinal são reais, o que nos deixa tão curiosos por ver algo que os desmistifique, como as notícias sobre depressões de alcoolismo e as fotografias de actrizes sem maquilhagem.
O perigoso desta questão leva-me a quem transmitiu a mensagem. Já não é a primeira vez que partilho a minha indignação por um órgão de comunicação social deixar passar informação que não acho que seja a mais adequada. Os media são poderosos. Sei que no fundo a revista persiste para deixar a população comum sonhar com as grandes casas, a alta-costura e as vidas perfeitas dos famosos, e ler artigos que mostram à "plebe" que "os ricos" também sofrem e que até podem ser mais infelizes. Quantas portugueses não se terão sentido melhores do que a Lady Gaga? É uma boa estratégia para elevar autoestimas. Mas há formas melhores de o fazer. Não poderiam ter passado uma mensagem mais positiva? Algo do género de: "Lady Gaga (mais) natural nas Bahamas" ou "Lady Gaga foi apanhada desprevenida de férias e não quer saber disso para nada porque tem muito "guito" e pode alterar o rabo e tudo o que quiser". Qualquer coisa. Qualquer coisa que mostrasse que Gaga/Stefani é como nós e que isso é o suposto.
Mas não, descobre-se uma foto de uma celebridade de celulite à mostra e é um alarido à volta do "defeito".
Enfim.
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1. Lady Gaga igual ao resto das pessoas na praia |
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2. Stefani relaxa nas Bahamas |
É impressão minha ou as sobrancelhas descoloradas parecem mais chocantes?