"A Bibliotecária de Auschwitz" é baseado na vida de Dita Dorochova, que aos 14 anos foi responsável pelos parcos livros numa escola clandestina do infame campo de concentração.
Ora, por norma as crianças não viviam nestes campos - nem os idosos ou enfermos - pelo que no início fica a dúvida sobre o objectivo da existência do campo familiar. O barracão 31 seria um local onde as crianças estariam ocupadas enquanto os pais trabalhavam. Acontece que Fredy Hirch, um judeu alemão cheio de fibra, depressa o transforma numa escola, com professores, alunos que por momentos se poderão sentir crianças, e, até, uma biblioteca. Têm livros "vivos", e uns quantos de papel, de que Dita se ocupa, o que é muito perigoso, já que são items proibidos ali.
Vamos seguindo o dia-a-dia desta rapariga perspicaz, a sua adoração por Hirch e o medo do Dr. Mengele, e, no fundo, a luta pela sobrevivência física e mental num local que foi uma autêntica "fábrica de morte". Para além da de Dita, conhecemos a perspectiva de outros prisioneiros e, até, de um SS.
Partimos do princípio de que esta leitura não vai ser fácil, e acreditem, não é. As condições eram péssimas, bem o sabemos. Preparem-se para ler sobre o frio polaco, os beliches cheios de pulgas e a fome, aquela sensação omnipresente ao longo das páginas porque o caldo aguado que fazia de sopa não chega para a satisfazer. São relatos duros.
O romance é uma sucessão de estaladas, mas também é um hino à esperança. No fundo, é sobre pessoas que tentam manter a sua humanidade e dignidade; que tentam continuar a ver a beleza entre a fealdade. O professor Morgenstein faz passarinhos de papel e apanha flocos de neve; há quem consiga descobrir o amor; e Dita refugia-se nas suas recordações, porque esse "álbum de fotografias" ninguém lho tira. E nos livros, essas "granadas" que esconde no escritório de Hirch.
É que eles são perigosos, fazem pensar, mas também são um escape e Dita lembra-nos o poder da leitura por diversas vezes. Ela sabia que "não importava quantas barreiras os Reichs do planeta erguessem à sua frente, porque se abrisse um livro poderia passá-las todas" (pág. 95).
Se eu gostasse de sublinhar os meus, este estaria já todo sujo de carvão. É um livro que se torna bonito: é sobre heróis ao seu modo, porque resistiram a um regime brutal que os tentou despojar de tudo o que os fazia humanos, durante um momento tão feio da nossa História europeia.
Leiam-no, que vale tanto a pena. Eu adorei-o.
Já o leram também? Qual é a vossa opinião?
Boas leituras!