sexta-feira, 7 de novembro de 2014

"Em Busca do Carneiro Selvagem", Haruki Murakami


Em Busca do Carneiro Selvagem, de Haruki Murakami, foi um dos primeiros livros do escritor. Sou fã e, como todos os fãs de Murakami, é quase impossível falar apenas de um livro. O escritor japonês tende a inserir sempre certos elementos nos seus livros e isso é fantástico! Eu e a S Pinelli, já falámos disso no Delícias à Lareira, caso estejam interessados em dar uma olhadela. Basta um clique.
 
Foquemo-nos, então, apenas neste livro, por agora. Sendo um dos primeiros, a informação é nos dada com mais detalhe; é tudo mais explícito, mais palpável. No entanto, senti-me um pouco perdida enquanto lia o livro. Parecia que nada fazia sentido. Porque iria uma organização embirrar com uma foto de uma paisagem com carneiros? E o que tem de tão especial o carneiro com um estrela no dorso? E porque foi a tal foto enviado pelo Rato, o amigo de infância do narrador/protagonista?
No fundo, tal como em “Moby Dick”, de Herman Melville, é a busca por um animal especial que vai dar o mote à acção. Será também a busca do protagonista por si próprio, talvez?
E no fim, o que fica?
Leiam o livro e depois expliquem-me também as vossas teorias…
 
 
Em relação aos elementos “murakamianos, apenas o narrador foge à regra. O protagonista causa alguma estranheza. Apesar de se caracterizar a si próprio como uma pessoa desinteressante e aborrecida, consegue ter uma visão aparentemente irónica do que a rodeia. Também se divorcia da mulher, o que escapa aos típicos protagonistas deste escritor. Normalmente é o pai que se divorcia e que sofre com a traição da mulher.
Os restantes elementos, ou parte dos que identificamos, estão lá:
- ouve-se música jazz;
- o narrador faz-se acompanhar por um livro. Sendo este um romance detectivesco, não será de estranhar que esteja a ler “As Aventuras de Sherlock Holmes”;
- uma das personagens tem problemas de relacionamento com o próprio pai, sentindo-se humilhada e rebaixada por ele, um pouco à semelhança de “Kafka à Beira Mar” e “1Q84”;
- há uma namorada com uma personalidade única e um dom peculiar – uma personagem amorosa, deixem-me comentar;
- fala-se sobre suicídio. Este também é um tema recorrente do autor, o que leva à teoria de, em certo ponto da sua vida, terá sofrido com a perda de um amigo que suicidou. Já em “Norwegian Wood” se foca nisso;
- existe um Líder Supremo, que está a morrer. Lembrei-me logo do Líder da seita em “1q84” e de Jonny Walker de “Kafka à Beira Mar”;
- existe um gato! Mas só a meio da acção é que recebe nome, sequer;
- também se fala sobre o cristianismo, algures;
- personagens desaparecem e reaparecem mudadas – “claro!”, oiço os fãs exclamar;
- uma “entidade” pretende mudar o mundo, um bocadinho à semelhança do Povo Pequeno de “1q84”;
- a sensação de irrealidade e a referência a um mundo paralelo – a que o protagonista apelida de “mundo dos vermes”, onde as “vacas procuram tenazes” – permeia o livro. Não terá o protagonista entrado para uma outra realidade?
Sobre este último ponto, que tanto me fascina, destaco uma passagem sobre o reflexo do protagonista no espelho que ilustra este “elemento”. É deliciosa! Saquem dos vossos volumes e naveguem até à pag. 336…
 
De “Em Busca do Carneiro Selvagem”, não posso dizer que é o meu preferido do autor, até porque fica um tanto aquém de “Kafka à Beira Mar” ou da trilogia “1q84”. No entanto, acho que é sempre positivo lermos as primeiras obras de um escritor de que gostamos e poder observar a sua evolução. E foi mais uma vez uma boa experiência de leitura surreal. Recomendo-o!
E vocês, caros seguidores, já o leram? O que acharam?
Boas leituras!

11 comentários:

  1. Su, trata-me por Spi como sempre, por favor (o google é que não me deixa registar o nome bem....)

    Em relação ao livro, como tu sabes perfeitamente, também sou fã do escritor. E recordado todas aqueles posts que fizemos sobre as semelhanças entre os livros, não é de estranhar que tenhas encontrado o mesmo padrão. É de estranhar que a tal namorada, com personalidade estranha seja amorosa.... Normalmente são um bocadinho sonsas. Recordo-me logo da Fuka-Eri e principalmente da Naoko.

    O último livro que li dele foi o After-Dark e também não me encheu as medidas, mas recordo-me que também mal apareceram gatos. Já ia quase a meio do livro quando me apercebi. Mas depois lá apareceu um parque infantil muito frequentado por gatos durante a noite.

    Se quiseres tenho o Dança, Dança, Dança, que acho que é uma continuação deste. Ainda não sei se te peço este emprestado ou se o vou a correr comprar.... Mas também tenho tanto para ler que não há pressa :)

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    1. Spi, (foi para te identificar mais facilmente, mas ok, tb prefiro :p) esta não tem tendências suicidas nem é muito nostálgica, e é sempre simpáticas com outras personagens. Destaca-se um bocadinho dessas por isso. Não sei é se no segundo volume não estará como elas, tadinha...
      Tb quero ler esse... Tenho que deitar o olho aos tais packs para dividirmso pelas 2. Queria comprá-lo tb, mas obgada. Se o quiseres para já é so pedir. Pois, como te compreendo... :D

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    2. Sendo assim, fico com aideia que o Murakami regrediu em vez de evoluir. Criou uma figura feminina minimamente normal e com o tempo foi tornando-as apáticas e estranhas....

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    3. Será que, entretanto, sofreu algum desgosto de amor por uma tipa deprimida?

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    4. Só pode. Quem é que fantasia com uma mosquinha morta?

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  2. Viva,

    Já li dois livros do escritor e não me consegue encher as medidas, reconheco talento, sem duvida mas não sei porque não é aquele escritor que me deixe plenamente satisfeito, mas penso voltar a dar oportunidade para o proximo ano, tenho quem me empreste os seus livros, o que na verdade facilita imenso.

    Tem sempre histórias algo estranhas, embora o Sputnik Meu Amor até se lê bem.

    Excelente comentario sem duvida :)

    Bjs e boas leituras

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    1. Saudações!
      Pois, os livros dele são sempre muito estranhos, com situações que parecem não fazer muito sentido. Eu por acaso gosto disso, e da sensação de estar ali perdida, como se fosse um sonho :p Já leste o "Kafka à Beira Mar"? Sim, o "Sputnik" é mais "normal". Na mesma linha tb tens o "Norwegian Wood", (que neste momento é o meu preferido dele) e que te recomedo.
      Obrigada!
      Boas leituras! :D

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    2. Vês? Sempre faço bem em impingir-te livros :P

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    3. Ois,

      Esse não mas li um bem estranho de FC que metia unicornios gostei muito, mas fica a registada a sugestão :D

      Bjs e espero que estejas a gostar de Zallar :)

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  3. Olá!

    Ainda não li mas quero muito, muito ler. Está ali na estante à espera entre outros do autor (incluindo o último, lançado em Setembro...).

    Beijinhos e boas leituras! :)

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    1. Olá! Bem-vinda! :D

      Espero que gostes. Quero depois ler a tua opinião. Estou curiosa com o último que foi lançado. Parece muito nostálgico.

      Boas leituras! Beijinho

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