quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

"Encantamento", Alice Hoffman

Comecei a ler "Encantamento" com algumas reservas. Para já não li as melhores críticas; depois, desde a "A Espia da Rainha", de Philippa Gregory, que tenho algum receio de ler sobre jovens judias na época da Inquisição. É que o tema não é leve, pelo que temia sentir-me defraudada. É que em "A Espia da Rainha" a protagonista não só era judia como conseguia ver anjos - dois pontos para a fogueira - e, por muito que goste da escritora, custou-me não sentir qualquer empatia com a personagem.

Regressemos a "Encantamento".
Neste livro, que contou para mim como a estreia com Alice Hoffman, acompanhamos Estrella, uma rapariga de 16 anos que vive numa localidade espanhola do Séc. XVI. Tem uma amizade muito especial com a vizinha, Catalina, e vive descontraída até ao dia em que os livros de um judeu são queimados na praça pelos soldados. A localidade contava com uma judiaria e uma mouraria, mas Estrella nunca pensou que a família escondia um segredo. 
No início se estivermos atentos percebemos logo que os deMadrigal são cristãos-novos, judeus convertidos ao cristianismo. Acendem velas em candelabros de prata à sexta-feira e não matam os porcos que criam porque  "preferem comer vegetais", por exemplo. 
Entretanto, a protagonista percebe que as pessoas escondem mais do que aparentam e não conseguimos deixar de nos preocupar com ela.
Gostei do livro pela forma como mostrou o tema e me deixou apreensiva com o destino das personagens. Tem passagens quase "visuais" e conseguiu mostrar os perigos da inveja. Acho que também captou bem a preocupação do povo judeu em manter e passar a própria cultura aos descendentes para que não se perdesse, mesmo que tal tivesse de ser feito às escondidas. 
Ainda assim, o estilo de escrita é muito leve. O livro é narrado na primeira pessoa, transmitindo a inocência de Estrella, o que talvez pudesse interessar a um público mais novo - tenho a certeza de que o ia apreciar muito há uns anos atrás.
Gostava de que o livro fosse mais "consistente". Além disso, não consegui deixar de estranhar o seguinte: a mãe da protagonista lê o futuro nas cartas. Bem, acho que tal não deveria ser aceite pelo avô, devido a algo como as Leis de Noé. Não quero ser "piquinhas", mas...

Pormenores à parte, o livro serve o objectivo de recordar um período negro da História. Lemos algures em "Encantamento" que "o ódio é sempre o ódio" e vale sempre a pena lembrarmos os crimes cometidos em nome da mesquinhez humana para evitarmos que se repitam.


Sinopse

Já o leram? Qual é a vossa opinião?
Boas leituras! 
 

4 comentários:

  1. Olá Su
    Como sabes já li este livro e achei-o mais ou menos. O tema é interessante e até se lê bem, mas realmente também achei que poderia ser mais desenvolvido.
    E este é daqueles livros que olhando para a capa e para o género que a editora o "rotulou", leva a enganos. É que normalmente podemos encontra-lo no género fantástico e não tem nada a ver =P
    Beijinhos

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    1. Olá, Tita,
      Pois, fiquei mesmo com pena de ser tão leve - apesar de o tamanho já dar essa dica...
      Tens razão :D dá mesmo a ideia de que fala sobre bruxaria. Se calhar isso também desiludiu muita gente...

      beijinhos e boas leituras

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  2. Pena que apesar de ser um livro sobre judeus, não se passe na 2ª guerra mundial, senão podias ter participado nas leituras em homenagem ao fim do holocausto deste mês...

    Mas voltando ao livro, também cá o tenho. A vontade de o ler não é muita, porque já me falaram um bocadinho mal dele. Por outro lado, tendo em conta a nossa herança judia, não deixa de parecer uma boa aposta. Vá, mais ou menos...

    beijinhos

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    1. Pois foi. E até publiquei a opinião no aniversário da libertação de Auschwitz. Enfim. Lê-o à mesma, mas sem muitas expectativas, ainda por cima a nossa "herança" vai deixar-te muito atenta aos detalhes - e também exigente ;D. É tão pequenino que o lês numa tarde. É daqueles livros que recomendaria a alguém mais novo.

      beijinho

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