quarta-feira, 20 de abril de 2016

"Beloved", Toni Morrison

Neste livro, acompanhamos uma família de ex-escravos, assombrada por algo mais do que a própria escravatura. Sethe e a filha Denver, moram no 124, uma casinha nos arredores de Cincinnati onde vivera a sogra, Baby Suggs, depois de ter sido comprada pelo único filho que viu crescer, Halle. Este último conheceu a mulher em Sweet Home, a plantação de onde retirou a mãe, onde trabalhava com mais três Pauls (A., F. e D.) e Sixo. A propriedade pertencia ao casal Garner, que nunca levantava a mão contra os escravos, e cujo dono se gabava de ter negros criados como "homens", que andavam armados e opinavam sobre o trabalho. Entretanto, com a morte de Mr. Garner, e a saúde a debilitar-se, a esposa dá ouvidos aos vizinhos para não ser a única mulher branca entre negros e pede ajuda ao cunhado para administrar Sweet Home. Ele e dois sobrinhos conseguem que a plantação deixe de ser tão doce e pricipitam a ideia de uma fuga dos escravos.
Assim, no início do livro, deparamo-nos com a chegada de Paul D. ao 124, dezoito anos depois, onde encontra uma Sethe ainda forte - a mulher que nunca desvia o olhar - e uma Denver desconfiada. E o fantasma de uma bebé, que deverá ter sido a razão da fuga dos dois outros dois filhos, Howard e Buglar, que preferiram partir e não dão notícias, e da razão porque os vizinhos não se aproximam da casa. Paul D., já dentro de casa, impõe-se contra  a assombração e aproxima-se de Sethe, o que deixa Denver magoada e só. No entanto, no dia seguinte, encontram uma rapariga debilitada à entrada que não se lembra de onde vem, apenas do nome, que lembra a inscrição na lápide da sepultura da falecida bebé de Sethe, Beloved.
Ao longo do livro, acompanhamos os acontecimentos que deram origem à fuga da plantação e a vida de Baby Suggs e Paul D, e não é propriamente uma leitura alegre. A narrativa tem um estilo poético que a aproxima da oralidade, o que demarca o elemento fantástico da assombração, mas, por outro lado, consegue ser dura, principalmente nas passagens sobre os abusos sofridos pelos negros, desde a utilização do freio à separação das famílias. Baby Suggs teve oito filhos, todos de pais diferentes, porque, como reprodutora que era, mandavam diversos homens à sua cabana, e Halle foi o único que viu crescer. Sethe, por seu lado, não cresceu com a mãe. Foi criada por uma ama responsável pelas crianças todas, brancas ou negras, que lhe apontou uma mulher ao longe para identificar a progenitora. Portanto, parte do tema do livro acaba por recair sobre o amor familiar, principalmente o materno; um amor tão intenso, como o da protagonista, que é capaz de tudo para afastar os filhos da escravatura.

Toni Morrison nunca refere que os escravos eram tratados como gado, mas fica a ideia nas entrelinhas. Ainda assim, não o descreve com o objectivo de nos chocar. Diz o que tem a dizer, doa ou não, e isso torna o livro excelente. Tive muito gosto em lê-lo, ainda por mais com o toque de realismo mágico em torno do 124, realçado pelo estilo de escrita. Vou querer continuar a ler a obra da autora.

Sinopse
Recomendo!

Já leram "Beloved"? Qual é a vossa opinião sobre o livro?
Boas leituras!


8 comentários:

  1. Olá Su,
    Também tenho este livro para ler, mas ainda não peguei nele.
    Fiquei ainda mais curiosa com a tua opinião.
    Beijinhos e boas leituras

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    1. Olá,
      Assim que puderes dá-lhe uma oportunidade :D é muito bom, vais gostar. Obrigada!
      Beijnhos e boas leituras

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  2. Foi uma excelente leitura, também gostei muito :)

    E parece que a Presença está a editar um novo livro dela!

    beijinhos

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  3. Olá Su,
    Acabei de ler a opinião da Sofia e se já tinha ficado curiosa, agora depois de ler a tua, estou convencida!
    Beijinhos

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    1. Olá, Tita,
      obrigada! Tens de ler :D acho que vais gostar muito desta leitura.

      beijinhos

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