Depois da minha leitura anterior fiquei com um sintoma triste que qualquer leitor reconhece: ressaca literária. Aquela sensação de que os personagens não nos largam; que continuamos presos dentro "daquele" livro, e parece que tão depressa não nos vamos deslumbrar por outro romance, porque vai ser difícil superá-lo.
Qual o melhor remédio para continuar a ler? Preferi escolher algo completamente diferente.
Foi assim que peguei de vez na trilogia "Neblina" de Carlos Ruiz Zafón. Já tinha lido o primeiro livro há uns anos - provavelmente num dos intervalos de actividade do blog, porque não consigo encontrar qualquer opinião sobre ele por aqui - mas preferi relê-lo e continuar com os seguintes.
Os fãs do autor já terão ouvido falar sobre esta trilogia. São os três primeiros romances publicados por Zafón, que podem ser lidos separadamente. São muito mais juvenis e fantasiosos, mas mantêm o toque de mistério e tragédia a que o autor nos habituou com a saga do "Cemitério dos Livros Esquecidos", tudo acompanhado com aquela capacidade cinematográfica para nos colocar dentro da história.
Em comum têm a neblina, que envolve o ambiente por onde as personagens se aventuram, e figuras bem sombrias, sejam elas a personificação do lado mais negro dos homens, em contraste com a luz de um amor redentor, ou um certo cavalheiro com quem não se deve fazer acordos. Lembram-se de Andreas Corelli, de "o Jogo do Anjo"? Não se admirem se o reconhecerem algures nestes livros.
Achei também engraçado notar a evolução do estilo de escrita do autor, já que o terceiro, "As Luzes de Setembro", consegue arrumar o primeiro a um canto. Fiquei, aliás, com a sensação de que os dois primeiros foram rascunhos para alcançar o "As Luzes de Setembro", que foi o meu preferido.
Ainda assim, recomendo a trilogia aos fãs, ou para quem procure uma leitura leve, mas com um toque de mistério ideal para a época do Verão - ou do Halloween.
"O Príncipe da Neblina":
Neste primeiro romance, acompanhamos as primeiras semanas de Verão dos irmãos Max e Alicia Carver, que se mudam com a família para a costa inglesa para escapar da guerra, e acabam por enfrentar algo bem negro.
Este livro em particular traz-me alguma nostalgia das leituras de "Os Cinco", de Enyd Blyton, ou da série "Arrepios", de R. L. Stein. Lê-lo nos meus 11 ou 12 anos teria sido impecável e ainda mais assustador. A história tem um toque fantasmagórico, tanto por se saber da morte do pequeno Jacob, o filho dos antigos donos da casa para onde os Carver se mudam, como por aquele jardim de estátuas, que consegue ser... Perturbador. Nesta segunda leitura já o esperava, mas ainda me lembro do arrepio causado pela primeira.
Gostei de o ler, mas o estilo de escrita simples causou-me alguma estranheza - o autor ainda estava a apurar o ofício - e não fiquei fã do género de vilão sobrenatural que é o dito Príncipe. Ainda assim foi interessante perceber a evocação do conto tradicional sobre "Rumpelstiltskin", o duende que promete meadas de ouro em troca do primogénito da filha do moleiro.
"O Palácio da Meia-Noite":
Ben e os seis amigos com quem fundou a "Chowbar Society" estão prestes a deixar o orfanato onde cresceram. Através do testemunho de Ian, que se compromete a relatar a história do último dia da sociedade secreta dos sete jovens - o dia em que nevou sobre Calcutá - vivemos uma aventura em busca do segredo sobre a família de Ben, enquanto enfrentam a ameaça de um assassino que persegue o rapaz e a irmã.
Este é o mais comovente da trilogia. É um romance de aventura com um tom detectivesco que também encerra uma história bonita, com um final de puxar pela lágrima.
Infelizmente, demorei quase metade do livro para gostar dele. É um dos tais casos em que a ideia é boa, mas a execução não foi a melhor, e aposto que se o autor pudesse, como explica numa nota introdutória, que o alinhavava agora de outra forma. Para já, se me permitem corrigir Zafón, alterava-se o início, porque parte do que poderia ser mais um mistério perdeu-se logo com o primeiro capítulo, e depois bastava reduzir os membros da "Chowbar Society", para o leitor se apegar melhor a eles, mas voltemos à minha opinião. Como dizia, só a meio percebi que estava a gostar, quando comecei a descortinar a história dentro daquela história. Essa capacidade de Zafón encanta-me e impeliu-me para continuar a leitura. E depois cheguei àquele final, tão comovente! Pobre do meu coração...
"As Luzes de Setembro":
A viúva Simone Sauvelle parte com os filhos, Irene e Dorian, para Baía Azul, onde irá trabalhar como governanta da mansão de Cravenmoore, uma propriedade que pertence a um fabricante de brinquedos que praticamente vive em reclusão, Lazarus Jan. Irene conhece Ismael, e, tal como o irmão, está a aprender a viver na aldeia quando ocorre um assassínio que não os deixa indiferentes.
Qual o melhor remédio para continuar a ler? Preferi escolher algo completamente diferente.
Foi assim que peguei de vez na trilogia "Neblina" de Carlos Ruiz Zafón. Já tinha lido o primeiro livro há uns anos - provavelmente num dos intervalos de actividade do blog, porque não consigo encontrar qualquer opinião sobre ele por aqui - mas preferi relê-lo e continuar com os seguintes.
Os fãs do autor já terão ouvido falar sobre esta trilogia. São os três primeiros romances publicados por Zafón, que podem ser lidos separadamente. São muito mais juvenis e fantasiosos, mas mantêm o toque de mistério e tragédia a que o autor nos habituou com a saga do "Cemitério dos Livros Esquecidos", tudo acompanhado com aquela capacidade cinematográfica para nos colocar dentro da história.
Em comum têm a neblina, que envolve o ambiente por onde as personagens se aventuram, e figuras bem sombrias, sejam elas a personificação do lado mais negro dos homens, em contraste com a luz de um amor redentor, ou um certo cavalheiro com quem não se deve fazer acordos. Lembram-se de Andreas Corelli, de "o Jogo do Anjo"? Não se admirem se o reconhecerem algures nestes livros.
Achei também engraçado notar a evolução do estilo de escrita do autor, já que o terceiro, "As Luzes de Setembro", consegue arrumar o primeiro a um canto. Fiquei, aliás, com a sensação de que os dois primeiros foram rascunhos para alcançar o "As Luzes de Setembro", que foi o meu preferido.
Ainda assim, recomendo a trilogia aos fãs, ou para quem procure uma leitura leve, mas com um toque de mistério ideal para a época do Verão - ou do Halloween.
"O Príncipe da Neblina":
Neste primeiro romance, acompanhamos as primeiras semanas de Verão dos irmãos Max e Alicia Carver, que se mudam com a família para a costa inglesa para escapar da guerra, e acabam por enfrentar algo bem negro.
Sinopse |
Gostei de o ler, mas o estilo de escrita simples causou-me alguma estranheza - o autor ainda estava a apurar o ofício - e não fiquei fã do género de vilão sobrenatural que é o dito Príncipe. Ainda assim foi interessante perceber a evocação do conto tradicional sobre "Rumpelstiltskin", o duende que promete meadas de ouro em troca do primogénito da filha do moleiro.
"O Palácio da Meia-Noite":
Ben e os seis amigos com quem fundou a "Chowbar Society" estão prestes a deixar o orfanato onde cresceram. Através do testemunho de Ian, que se compromete a relatar a história do último dia da sociedade secreta dos sete jovens - o dia em que nevou sobre Calcutá - vivemos uma aventura em busca do segredo sobre a família de Ben, enquanto enfrentam a ameaça de um assassino que persegue o rapaz e a irmã.
Sinopse |
Este é o mais comovente da trilogia. É um romance de aventura com um tom detectivesco que também encerra uma história bonita, com um final de puxar pela lágrima.
Infelizmente, demorei quase metade do livro para gostar dele. É um dos tais casos em que a ideia é boa, mas a execução não foi a melhor, e aposto que se o autor pudesse, como explica numa nota introdutória, que o alinhavava agora de outra forma. Para já, se me permitem corrigir Zafón, alterava-se o início, porque parte do que poderia ser mais um mistério perdeu-se logo com o primeiro capítulo, e depois bastava reduzir os membros da "Chowbar Society", para o leitor se apegar melhor a eles, mas voltemos à minha opinião. Como dizia, só a meio percebi que estava a gostar, quando comecei a descortinar a história dentro daquela história. Essa capacidade de Zafón encanta-me e impeliu-me para continuar a leitura. E depois cheguei àquele final, tão comovente! Pobre do meu coração...
"As Luzes de Setembro":
A viúva Simone Sauvelle parte com os filhos, Irene e Dorian, para Baía Azul, onde irá trabalhar como governanta da mansão de Cravenmoore, uma propriedade que pertence a um fabricante de brinquedos que praticamente vive em reclusão, Lazarus Jan. Irene conhece Ismael, e, tal como o irmão, está a aprender a viver na aldeia quando ocorre um assassínio que não os deixa indiferentes.
Sinopse |
E nem falo do ambiente do livro, porque, como podem adivinhar, se Baía Azul parece um local idílico, com a sua praia e a casinha na falésia, Cravenmoore é sombria e está pejada de autómatos, que parecem mexer-se por vontade própria. Creepy, sim.
Foi um romance que li com muito gosto, sempre desejosa de desvendar o mistério que por ali se esconde "nas sombras", diria, e fico com um fraquinho por ele. Acho que tem um tom de esperança muito agradável.
E vocês, já leram esta trilogia? Qual é a vossa opinião?
Boas leituras!