sexta-feira, 26 de agosto de 2016

"1984", George Orwell

Querem ler algo que vos acicate, que vos deixe a pensar na nossa liberdade, na sociedade e no que ela se pode tornar? "1984" é uma boa sugestão. É um aviso. Ao ser escrito depois da II Guerra Mundial e ao satirizar os sistemas políticos totalitários, na época poderia ter impacto, mas hoje mantém-no. Não só porque continuamos em risco de cair em tal situação, mas porque existem temas intemporais que nunca é demais lembrar.

Em "1984", o mundo, pelo que Winston Smith sabe, divide-se em três potências, Oceânia, Lestásia e Eurásia, que guerreiam em permanência. Winston vive na Ocêania e é um dos camaradas do Partido Externo, mas duvida do que o envolve e começa a sentir-se revoltado com o sistema. Tem vislumbres da infância e acha que antes, a situação era diferente. Até a comida deveria ter um gosto mais saboroso, mas segundo o Partido, naquele momento atingiram um bom nível de vida. Como o explicar? Ou as mudanças que são feitas nos arquivos, onde até as pessoas desaparecem? E a guerra permanente em que vivem, será real? Pratica o primeiro acto de rebeldia ao comprar o diário onde quer "escrever para o futuro" e dá por si a esperar que algo destrua o Partido. Através dele, percebemos o tipo de sociedade em que vive e acompanhamo-lo a colocar em causa aquela ideologia.
O Partido regulamenta cada passo que dá, personificado pelo Grande Irmão, um rosto que o mira dos cartazes que pejam Londres. Pela cidade, no trabalho e no apartamento, as paredes estão equipadas com um telecrã, que transmite comunicados e música, e capta cada imagem e palavra dele. O Partido sabe sempre o que os camaradas estão a fazer, até no sono. O Partido regulamenta os casamentos, cujo fim é a procriação, e não a legalização de uma relação amorosa, já que os camaradas não devem ter tais laços entre eles. Dá preferência ao celibato, na verdade, e se há famílias, as crianças são instrumentalizadas logo cedo. São tão leais ao Partido que vigiam e denunciam os próprios pais.
Se o mundo em que Winston vive nos arrepia pela vigia constante, depressa depreendemos que o Grande Irmão vai mais longe, porque grande parte do seu objectivo passa pela supressão da individualidade e da liberdade de pensamento. O controlo dos meios de comunicação e da própria História é assustador, e feito de tal forma conveniente ao Partido que Winston nem tem a certeza de que o ano é 1984. Pode ser outro ano qualquer.  
Além disso, a mente deve adoptar a perspectiva do Partido. Se hoje deixam de estar em guerra com a Lestásia de quem agora são aliados suprime-se tal facto dos jornais - o trabalho de Winston - porque sempre se esteve em paz com tal potência. Se o Partido diz que 2+2=5, é porque 2+2=5. O Partido tem até nas mãos o projecto gramatical da novilíngua, mais apropriada a esta forma de pensar limitada e de acordo com os trâmites.
Assim, enquanto acompanhamos Winston, chocamos com os paradoxos daquela ideologia que controla as massas e somos levados a olhar bem para o nosso mundo. Um ponto que premeia o livro é o auto-controlo do pensamento, e não deixei de fazer associações com outro tipo de organização. Já repararam como a nossa perspectiva de uma acontecimento se altera consoante a ideologia que seguimos? O facto de pertencermos a uma religião - ou não - não nos mostra o mundo de maneira diferente? Todos conhecemos os perigos do fanatismo e neste livro é tão extremo que há que suprimir a própria memória consoante o que o Partido profere, porque é a instituição que encerra a única verdade. É o controlador de tudo, até das leis da Natureza, porque segundo ele, tudo existe através da consciência humana, e é o Partido que a controla... 
Temos, portanto uma visão assustadora de algo que se torna uma entidade por si. Dizem que quem controla a informação tem o poder. Se "apenas" isso já tem a capacidade de controlar a nossa perspectiva do mundo, imagine-se algo que pretende controlar o pensamento individual dos cidadãos para manter a "máquina" a funcionar, uma "máquina" que chega a ponto de querer limitar a linguagem para limitar a mente - sem termo apropriado para expor uma noção, como pensar sequer em tal? - e, com isto, controlar a população e manter o Poder.
Achei uma boa chamada de atenção para nos lembrarmos de pensar por nós mesmos.

É um livro que recomendo a todos pela mensagem que encerra. 

Sinopse

Já leram "1984"? Qual é a vossa opinião?
Boas leituras!

10 comentários:

  1. Olá Su,
    Já li o livro há uns anitos e adorei! É uma das minhas distopias preferidas, além de adorar a escrita do Orwell.
    Beijinhos

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    1. Olá, Tita,
      Até me esqueci de falar sobre isso, mas tb gostei muito do estilo dele :D é mesmo um Grande livro.
      beijnhos

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  2. É um livro marcante. Não só pela qualidade mas, sobretudo, pela mensagem. É muito importante para perceber os tempos que vivemos na Europa e do perigo da ascensão do totalitarismo. Gostei da review :)

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    1. Olá, João,

      Obrigada :D Sim, também achei. Devia ser um livro resgatado mais vezes até pelas escolas...

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  3. Um dos livros mais marcantes. Incontornável :)
    Gosto imenso.

    Boas leituras, Su!

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    1. Olá, Denise,
      Também fiquei fã :D é muito bom...

      Boas leituras!

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  4. Viva,

    Um livro muito interessante mas não foi a melhor distopia que li, digamos que gostei :)

    Bjs e parabens pelo excelente comentário :)

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    1. Olá, Fiacha,

      Lá está, gostos são gostos :D mas espero ler mais distopias.
      Obrigada :D
      bjs e boas leituras

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  5. Olá Su,
    Também tenho este livro para ler, mas ainda não peguei nele.
    Espero fazê-lo em breve! A tua opinião deixou-me mais curiosa.
    Beijinhos e boas leituras

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    1. Olá, Isaura,
      Obrigada :D é muito bom, aposto que vais gostar.

      beijinhos e boas leituras

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