segunda-feira, 27 de junho de 2016

Divulgação | Livros Amarelos


Vamos abrir um buraco no cadáver de Fernando Pessoa e vamos abrir um buraco no cadáver de Miguel de Unamuno. Para quê abrir buracos em cadáveres, perguntarão os leitores? Para lhes insuflar vida, responde a Guerra e Paz Editores.
Tomemos nos braços o cadáver de Pessoa, o seu «Banqueiro Anarquista», por exemplo. O que acontecerá se, por esse buraco, lhe insuflarmos o sopro da boca de Oscar Wilde chamado «A Alma do Homem sob a Égide do Socialismo»? Arranquemos ao túmulo, piedosamente, o cadáver do espanhol Miguel de Unamuno pegando-lhe pelo buraco que dá pelo nome de «Portugal, um povo suicida» e disparemos lá para dentro o tiro que espatifou os miolos do português Manuel Laranjeira e a que ele chamou «Pessimismo Nacional». Há mais vida num tiro suicida do que numa longa existência canalha!

De que morte e de que vida é que estamos a falar? Estamos a falar de textos que o respeito atirou para um cemitério chamado literatura. A melhor forma de matar um texto, a melhor forma de matar a criação é catalogá-la e engavetá-la.
Matemos a morte, regressemos à vida! Para dar vida a contos, a romances, a poemas e a ensaios é necessário abrir-lhes um buraco por onde entrem outros textos. A melhor forma é rasga-los à discussão. A melhor forma é pintá-los a uma cor inesperada e insólita.
Hoje, a Guerra e Paz inicia uma viagem de devassa ao cemitério que é o património literário da humanidade. É mentira, os textos não estão mortos. Às nossas escondidas, nos escusos vãos das bibliotecas, os textos literários fazem uns com os outros coisas inconfessáveis. Era preciso caçar-lhes essas relações clandestinas. A Guerra e Paz editores criou o paparazzo da história da literatura e do pensamento. Chama-se Livros Amarelos e é uma nova colecção. A colecção que revela as relações comprometedoras de textos célebres.
Célebres, célebres, muito bons, muito bons, mas metidos a um canto, e isso é exactamente o que esta colecção quer veementemente rejeitar, contrariar e desmentir. Livros Amarelos é uma colecção de textos que se erguem de um salto, afectivamente activos.
Esta é uma colecção que, ao contrário de muitos planetas e de tantas estrelas, se pode ver à vista desarmada. São livros de 15 por 21 centímetros e são amarelos. Completamente amarelos e pintados à mão nas três faces do miolo. Custa um dinheirão ao editor? Custa, mas é bonito que se farta. E não são só livros bonitos. A Guerra e Paz rasgou-lhes a beleza, com um corte elíptico e alongado que deixa ver uma faísca de vermelho ou verde ou azul, conforme a cor que as guardas do livro, debaixo da capa, venham a ter. 

São os Livros Amarelos, amarelos por serem voyeurs, amarelos em vénia à Yellow Book, a revista que, na Londres do século XIX, foi o primeiro sopro de vida desse modernismo que ainda hoje, no século XXI, se nos cola à pele, como grafismo de Ilídio Vasco, autor do design, grita nestes livros.

Saem, agora, os dois primeiros. Num, o «Banqueiro Anarquista», de Fernando Pessoa, dialoga com «A Alma do Homem Sob a Égide do Socialismo», de Oscar Wilde. Entre os dois textos, intrometem-se 60 páginas com a biografia dos autores e um texto que vai por trás do anarquismo dos autores, tortura-os com perguntas e tenta desesperadamente estabelecer as relações deles. Escreve-o Manuel S. Fonseca.

 
O outro livro junta «O Pessimismo Nacional», de Manuel Laranjeira, insólito médico e autor português, que escreveu uma carta ao amigo espanhol Miguel de Unamuno e a seguir se suicidou, levando o perplexo filósofo espanhol, em «Portugal, um Povo Suicida», a desesperar face à psicologia dos portugueses, esse povo vizinho que tem na morte a solução para a crise espiritual e a bancarrota financeira. Passaram cem anos e podia ser hoje, é o que Helder Guégués também diz no texto em que ressuscita o suicida português e o anti-falangista espanhol.

Nasceu uma nova colecção, os Livros Amarelos. Em cada livro dois textos de dois grandes autores. Podem ser novelas, contos, poemas ou ensaios. Um intrometido «estudo» contemporâneo virá sempre lançar a rede que liga esses dois textos clássicos. Em Setembro, o próximo livro, amarelíssimo, juntará «A Célebre Rã Saltador do Condado de Calaveras», de Mark Twain, e «Rikki-Tikki-Tavi», de Rudyard Kipling. Mark Twain e Kipling trazem rãs, cães, cavalos, ratos-alfaiates e najas, as cobras-capelo. E um mangusto. O mangusto, já se sabe, tem bons dentes e é imune ao veneno das cobras mais peçonhentas. Saídos do cemitério e regressados à vida, é mesmo de um mangusto que os proteja que os Livros Amarelos estão a precisar: bem vindos ao século XXI.


Modo de uso dos Livros Amarelos

Toque-lhes. O amarelo não se pega.
Compre-os. É uma forma legítima e desejável de posse.
Meta o dedo. É irresistível, o cortante da capa abre uma fenda que apetece tactear.
Abra-os. Têm segredos que só quem vai lá dentro descobre.
Leia-os. Os seus olhos são o violino que dá música à sua alma.

Nas livrarias a 29 de Junho.
 
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