quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

"Admirável Mundo Novo", Aldous Huxley

Neste "Admirável Mundo Novo" a sociedade tornou-se aparentemente "perfeita". Todos estão satisfeitos com o lugar que lhes coube na sociedade. Foram divididos por castas e educados/condicionados durante o sono para serem perfeitos no seu lugar. Não ambicionam outros postos porque tal nem lhes passa pela cabeça. Todos podem também ter acesso ao soma, a droga da felicidade e um escape do dia-a-dia, tal como o cinema sensorial, ou as actividades desportivas. Todos pertencem a todos, as relações íntimas são aconselhadas desde cedo e ninguém conhece a solidão. Também ninguém envelhece ou adoece, e a morte não é um assunto tabu. Ninguém tem encargos com a família, porque tal foi abolido. Ninguém se casa, nem ninguém nasce de forma vivípara (a heresia!) porque são reproduzidos e manipulados em laboratório em massa, tal como qualquer produto. Portanto, nesta sociedade não há desemprego; não existem greves nem intrigas entre funcionários, porque todos estão satisfeitos; não precisam de religião e vivem no Presente. E de tão feliz, que isto parece, torna-se assustador.
A verdade é que cada um deles é apenas uma peça da engrenagem da sociedade, e podem ser produzidos em massa (nosso Ford!), existindo mesmo conjuntos de gémeos Bokanovskizados que ocupam todos um sector.
Assim, os cidadãos são fabricados, adquirem e usufruem os produtos que fabricam e mesmo depois de mortos são reaproveitados. É isso que a vida de uma pessoa vale. Menos que nada, porque assim que uma morre, "n" vidas estão prestes a ser decantadas. 
São escravos, mas felizes nessa escravatura porque o prazer lhes é permitido e com tanta actividade para "sentir" em grupo, quem é que tem tempo para se sentar sozinho e começar a pensar? Até porque "pensar" sobre o meio onde vivem lhes é algo estranho. Nem sequer têm conhecimentos sobre outro sector que não o do trabalho, porque não foi para isso que foram condicionados. 

Acontece que de tempos a tempos há indivíduos que dentro do grupo se destacam, como é o caso de Bernard Marx, a quem, por acaso, deram uma estatura baixa de casta inferior, e não a altura de um alfa, e que se habituou de tal forma a ser diferente que aprecia a solidão. Ou do amigo Helmholtz, que gostava de escrever sobre algo que importe. Ambos são "estranhos", porque querem "sentir" e não ser apenas mais um número do "rebanho".
Bernard apenas se sente atraído por Lenina e convida-a  para ir a uma reserva onde vivem "índios", zonas fora da civilização onde as pessoas ainda vivem de forma ancestral - e que muito choca a rapariga. Aí encontram Linda, uma beta que teve uma ligação com o D.I.C., o Director da Incubação e do Condicionamento, e que se perdeu naquela zona anos atrás. Acontece que engravidara e levam-na de volta para a civilização juntamente com o filho, John. É este último, que cresceu posto de parte pelos selvagens, mas versado em Shakespeare através de um volume velhíssimo, que destaca tudo o que de negativo tem este "admirável mundo novo".
É que aquelas "admiráveis criaturas" não conseguem ver para além do seu condicionamento, muito menos conseguem lidar com emoções. Não vêm Beleza na natureza - não a vêm de todo, aliás - e nem têm arte ou literatura. Sem emoções, tal é impossível. Todos os seus desejos são satisfeitos, pelo que não sofrem por "amor". Tal não existe. Não amaram uma mãe, como John, e as ligações com outros são apenas físicas.

E assim, a sociedade deles é perfeita, estável. Porque um trabalhador feliz, é um bom trabalhador. Um trabalhador satisfeito com o que tem não ambiciona mais e não desestabiliza a sociedade, porque não quer o que não pode obter. Anula-se o indivíduo a favor da massa, anulando o que faz dele "humano", no fundo. Aqui o cidadão pertence ao auge da civilização, mas tal será o auge da "humanidade" sem emoção, sem "amor"?

"Admirável Mundo Novo" é um livro que recomendo, sem reservas, claro. É perturbador. Está escrito com um leve toque humorístico - onde até a escolha de nomes ou cargos o demonstra - que "maquilha" o seu lado negro de distopia, mas leva-nos a reflectir. O mais curioso é que passados tantos anos sobre a sua publicação, não estamos assim tão longe de todo o processo de condicionamento que torna o individuo apenas uma "peça" da "máquina" que se auto-regula. E pareceu-me também uma aviso sobre as tendências de uma sociedade de consumo, onde o objectivo de vida do indivíduo se torna adquirir o próximo produto do mercado...


E vocês, já o leram? Quais são as vossa ideias sobre aquele "admirável mundo novo"?
Boas leitura!

2 comentários:

  1. Olá, Su,
    Já li o livro há uns anos e adorei! Uma excelente distopia!
    Beijinhos e boas leituras

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    1. Olá, Tita,

      É sim, sem dúvida :D

      beijnhos e boas leituras

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