sexta-feira, 3 de junho de 2016

"As Vinhas da Ira", John Steinbeck

Conhecem aquela sensação de que conseguem ouvir o silêncio quando o barulho acaba de repente?
Terminada a leitura de "As Vinhas da Ira", é assim que me sinto. É um Grande livro. Procurem-no e leiam-no, já!

Nesta obra acompanhamos os Joad que, devido à Grande Depressão e a más colheitas provocadas por tempestades de pó, são só uma das muitas famílias que se viu expulsa da terra de que cuidavam. Os donos das propriedades - que acabam por as ver entregues aos bancos - preferem o uso de um tractor a uma família inteira, o que origina uma vaga de migrantes que segue o sonho de chegar à Califórnia em busca de emprego, já que segundo uns prospectos se pedia pessoal para lá. Seguimos, assim, a jornada deles até a um outro estado, movidos por esperança e medo, a acampar do outro lado da estrada, e, no fundo, a sobreviver um dia de cada vez, como Tom já aprendera na prisão.
Não é uma história bonita, claro. Pelo meio da saga da família, o autor escreve capítulos onde se acompanha o período de uma forma mais geral, e onde se percebe a forma como eram enganados por quem conseguia manter o negócio aberto. Em tempos de crise, há sempre quem consiga prosperar com a miséria alheia, não é o que dizem?
Por todo o livro perpassa uma crítica ao sistema capitalista e à injustiça do êxodo: a terra intocada quando há pela estrada tanta gente disposta a trabalhar nela; a ganância de se plantar algodão "à força", pelo rendimento, sem pensar nas implicações, já que a planta seca o solo rapidamente; a fruta deitada fora para não se baixar o preço dela; os salários baixíssimos e a acusação de ser um "vermelho" quem se atrevesse a levantar a voz contra.
Perpassa ainda pelas personagens a ideia de que unidos seriam capazes de se revoltar, mas até que ponto? E não seria melhor aceitar o trabalho, por mais mal pago que fosse, para comprar o mínimo de alimento possível? E se se esgotar num lado, não é melhor partir para outro?
É uma realidade dura a que é retrata, mas também uma forma de abrir os olhos não só para um período do passado como para a nossa época. Não consegui deixar de pensar nos refugiados que chegam à Europa, desde o momento em que os Joad dão por eles a escolher o que levar consigo antes de abandonar a propriedade até à forma como são vistos com tanta desconfiança pelos outros.
Outra crítica presente pela obra prende-se com a religiosidade exarcebada. Com a família viaja um ex-pregador, Casy, que desistiu do cargo por preferir viver e sofrer como outro homem para perceber sobre o que falava à congregação. Ainda se cruzam com uma ou outra personagem para quem o mínimo de prazer na vida é um pecado, o que também nos leva a questionar o conceito. É que Tom fora preso por matar um homem, mas não se arrependeu de tal. Faria o mesmo outra vez. Já o tio John acha que pecou por não ter ajudado a tempo a falecida mulher. Dá que pensar. Será a noção de pecado algo pessoal, no fundo? Será assim tão mau um homem roubar se tiver fome? Ou ripostar contra a polícia para se defender?
Fiquei também impressionada com a forma como a solidariedade nasce tão facilmente entre os que não têm nada. Formam laços entre si e entreajudam-se em gestos tão simples como partilhar a refeição ou pagar a sepultura de um familiar, o que me tocou. 
Tenho ainda de partilhar que fiquei com a ideia de que Steinbeck perpassa também o ideal do amor à terra. A propriedade onde os Joad viviam manteve-os unidos e manteve vivos os avós. Fora dela, o que será da família?
 
O livro tocou-me e adorei lê-lo. É denso, mas muito bom. Recomendo!

Sinopse

Já leram "As Vinhas da Ira"? Qual é a vossa opinião?
Boas leituras!

11 comentários:

  1. Olá Su.
    Adorei a tua opinião. Vê-se que gostaste mesmo do livro. Não li nem conhecia o livro. Parece realmente bom. Vou colocar na minha lista. ;)

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    1. Olá, Di :D
      Obrigada! tens de ler, acho que vais gostar. Adorei-o, é muito bom.

      beijinhos

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  2. Olá Su.
    Adorei a tua opinião. Vê-se que gostaste mesmo do livro. Não li nem conhecia o livro. Parece realmente bom. Vou colocar na minha lista. ;)

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  3. Oh Su, fiquei com vontade de ler, apesar de ser um livro que dá luta :) Pode ser que faça parte dos novos livros rtp!

    beijinhos

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    1. Olá, Spi,
      Olha, não era mau pensado hehe sim, mas é gratificante :D

      bejinhos

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  4. Um dos meus livros preferidos de todo o sempre. A ter de escolher um autor apenas, o meu preferido sem dúvida!
    Soberbo :)

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    1. Olá, Denise,
      É mesmo a palavra para o descrever :D é muito bom. Fiquei com vontade de ler a restante obra do autor :D

      beijinhos

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  5. Por acaso desconhecia mas lá vai ter que ir para a lista :D

    Espero que tenhas um bom fim-de-semana... Aproveita!
    Beijinhos*

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    1. Olá, C.,
      Tens de o ler :D é excelente.
      Obrigada e igualmente :D

      beijinhos

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  6. Respostas
    1. Pois é,para variar um bocadinho, aproveitando a tua sugestão hehe :D

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