quinta-feira, 10 de novembro de 2016

"Os Filhos dos Nazis", Tania Crasnianski

Em "Os Filhos dos Nazis" Tania Crasnianski, ela própria neta de um oficial da Força Aérea Alemã durante o III Reich, procura compreender como é que os filhos de alguns dos homens mais importantes do regime vêm o pai. Será que se sentem eles próprios culpados dos crimes dos pais? Como será saber que o pai que tanto adoram foi responsável pela morte de milhares? E quais as implicações de ter o seu apelido?
Neste documento temos então acesso  à história de oito famílias de oito personalidades do III Reich. Percebemos como foi a ascensão de cada pai dentro do Partido Nazi, as suas relações familiares, e como eles - e as suas acções pelo regime - são recordados pelos filhos.

Esta é uma temática que me deixa curiosa e li este livro com muito gosto. É que, vejamos, aqui fala-se sobre pessoas com um ambição sem limites, mas também que de alguma forma queriam recuperar a Alemanha - se me permitem, "torná-la grande outra vez"... - que tanta humilhação sofreu com a derrota na I Guerra Mundial. Alguns dos dirigentes apoiaram Adolf Hitler logo no início da carreira política, e, querendo ou não, eram homens de família.
Adorei perceber como foram as vidas das mulheres e dos filhos, que viram a sua situação social alterada num movimento de ascensão e queda consonante com o regime, pelo que algumas chegaram a vivenciar a miséria depois dos julgamentos de Nuremberga. 
Das oito famílias exploradas no livro há esposas muito amadas, e outras postas de lado a favor do regime, e vivem na opulência, como os Goring, já que Hermann é um ávido coleccionador, ou os Frank, onde a própria esposa de Hans Frank, governador-geral da Polónia, adquire tantos bens no gueto judeu - bairro esse organizados pelo próprio marido. Para os filhos, a figura do pai é alterada conforme a personalidade ou a vida familiar. Há filhos que lembram pais carinhosos e heróicos, e outros que recordam uma figura fria. Alguns continuaram a seguir a ideologia nazi e a apoiar movimentos de ideologia nazi, enquanto há netos e sobrinhos-netos a abraçar o judaísmo ou a esterilização numa reviravolta destinada a parar aquela "herança". O certo é que ao lermos estes relatos percebemos que estes dirigentes, mesmo que assinassem ordens de execução de crianças judias, podiam ser carinhosos para os próprios filhos. Poderá ser o ser humano tão dual, ou estavam realmente "apenas" a seguir ordens? Teriam prazer em exterminar comunidades inteiras ou, no fundo, não planeariam "apenas" um futuro feliz para os seus filhos numa Alemanha "Ariana"? 
Por exemplo, Heinrich Himmler, um homem-chave do regime, responsável pelas SS e pela implementação de campos de concentração, é o orgulho da filha, Gudrun, a sua bonequinha. Wolf  Rudinger Hess acha que o pai é um mártir. Dedicou a vida a defender Rudolf Hess, secretário do Fuher e condenado a pena perpétua, que acredita ter sido assassinado na prisão. Por sua vez, Martin Adolf Bormann, filho de Martin Bormann, outro homem de confiança de Hitler, afastou-se da ideologia do pai ao ponto de se aproximar da Igreja Católica, e Niklas Frank não teme em afirmar que odeia o pai pelas suas acções. Uns amam o apelido e sentem que lhes abre portas. Outros rejeitam-no, como Brigitte, filha do comandante de Auschwitz, Rudolf Hoss, que preferiu esconder a sua identidade e nem aos netos contar quem são, apesar de reconhecer que teve um pai exemplar.
Por acaso, de todos os capítulos, de entre os quais consta um dedicado a Rolf, filho do Josef Mengele - o infame médico de Birkenau, que levou a cabo experiências em "pacientes" sem qualquer anestésico -, o que mais me chocou  abordou a vida dos filhos de Rudolf Hoss. Essas crianças viveram felizes numa quinta perto do campo de extermínio comandado pelo pai, onde executava a ordem para levar a cabo a "Solução Final". Como é possível ter uma experiência tão idílica ao lado do pesadelo de tantos? Brincar num jardim enquanto mesmo ao lado os fornos queimavam cadáveres de seres que consideravam sub-humanos? Para mim este foi o exemplo perfeito do que significou ser familiar se um nazi... 

O estilo do livro é quase jornalístico e permite ao leitor tirar as suas próprias conclusões. Foi uma boa forma de perceber como será carregar a herança de um antepassado que conseguiu compactuar com uma ideologia tão extrema como aquela, mas também compreender que era apenas humano. E isso pode ser bem mais assustador. 
Costumo comentar que nunca é de mais relembrar as acções do III Reich, e cada vez mais se torna pertinente manter à tona os horrores do extremismo. Recomendo-o.

Sinopse
 Já conhecem este livro? Qual é a vossa opinião?

Nota: O meu exemplar foi cedido pela editora Guerra e Paz para opinião, a que mais uma vez agradeço.

 

6 comentários:

  1. Olá Su,
    Excelente opinião! Mesmo!
    Conseguiste expressar bem os sentimentos do livro.
    Beijinhos e boas leituras

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    1. Olá, Tita,
      Ohhhh, obrigada xD estava cheia de medo de não me conseguir expressar bem (ou de parecer que estava a defender o regime :P). É daqueles que só dá vontade de dizer "leiam-no, leiam-no!".
      beijinhos e que venham mais boas leituras

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  2. Viva,

    Fica registada a sugestão pelo que percebo vale bem a pena ;)

    Bjs e boas leituras

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    1. Olá, Fiacha,
      É um bom livro, que vale a pena - e é tão pertinente para os tempos que correm perceber como "funcionários normais" podem ser tão extremista e não sentirem a mínima culpa.
      Espero que gostes, quando tiveres a oportunidade de o ler
      beijnhos e boas leituras

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  3. Olá Su,

    Adorei a tua opinião. Este livro também me impressionou ao demonstrar a forma como viviam as mulheres e os filhos destes nazis, mas sobretudo pela forma como os filhos eram protegidos. A maior parte não sabia mesmo o que os seus pais faziam quando saíam de casa.

    Beijinhos e boas leituras!
    MM

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    1. Olá, Maria,
      Obrigada :D pois não, não se comentava nem metade do que acontecia nas casas deles...

      bejinhos e boas leituras

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