Se há certos livros que me compelem a ler apenas pela intriga do enredo, outros há em que tal se alia à personalidade de uma personagem. Nem sempre precisa de ser a mais corajosa, ou determinada, bem pelo contrário. Por vezes, basta-lhe ser humana, com todas as virtudes e defeitos que tal pressupõe, para me tocar, e foi este o caso.
Neste romance acompanhamos a vida dos irmãos Lopes Moreira, durante o infame ano de 1918, em particular, a de Nicolau. Com o coração quebrado por uma dançarina, Rosalina, o jovem alistara-se no exército e fora enviado para as trincheiras, em França. Ao ser ferido é autorizado a regressar a casa, mas a recuperação não se afigura fácil, não só a nível físico, como psicológico. A experiência na guerra assombra-o. Regressa revoltado, consigo e com o mundo, afligindo a família. Para piorar o seu estado de alma tão negro, Rosalina ressurge para o atormentar, em busca de uma ligação que lhe proporcione a vida estável e desafogada que trocara por uma miragem. Enquanto isso, César divide-se entre os negócios e as noitadas, disposto a proteger o irmão mais velho, e Bernarda preocupa-se também com o próprio projecto, a revista "Nova Ideia", numa época em que uma mulher não podia votar, quanto mais ter acesso à carteira profissional de jornalista. Apoia-se na amizade de Cecília, uma jornalista de bom coração que teme que o activismo do avô, o tipógrafo Cupertino, o atire para a prisão.
Porém, naquele ano, para além da guerra e do regime ditatorial de Sidónio Pais, que tornam a vida tão instável, a gripe espanhola insinua-se em Portugal e Nicolau tem a oportunidade de voltar a exercer medicina - e de se redimir...
Como podem imaginar, a leitura de "O Ano da Dançarina" consegue ser emotiva. Através das suas páginas acompanhamos as vivências da família, que se entrelaçam com a História em certos momentos. Além disso, temos a oportunidade de captar o ambiente lisboeta da época, tolhida pelo medo da epidemia, frente à qual pouco ou nada se pode fazer, e também de perceber a mente de um combatente na "Guerra das Trincheiras". O medo de Nicolau, aquele omnipresente receio de ouvir as metralhadoras e de se ver de novo em França, transforma-se em pesadelos e ataques de pânico, de uma forma bem credível para o leitor...
Nicolau foi, na verdade, um protagonista que me chamou imenso a atenção. É um homem envolto em trevas, que a certo ponto se deixa tragar por elas, e achei fantástico ler sobre uma espécie de "anti-herói". Porque Nicolau não é perfeito, e tem noção disso mesmo. Comete erros, perde o orgulho, e sente-se, acima de tudo, inútil, seja para confrontar a "inimiga invisível" que assola Lisboa e o mundo, ou para se enfrentar a si mesmo. E cada vez me sinto mais atraída por personagens "imperfeitas", exactamente por serem tão "humanas".
Foi bom perceber que, para além dele, a autora conseguiu povoar o livro com personagens assim, que tal como qualquer pessoa, sonham e odeiam, cometem deslizes, perdem as estribeiras e chegam a pôr em causa a própria fé quando a dor as atinge.
E são personagens, ainda por cima, portuguesas! Foi uma delícia ler em certos pontos os diálogos com aquele tom coloquial que é tão nosso, bem como perceber o uso de expressões da época. Conseguiu envolver-me naquele ambiente, e adoro quando isso acontece. Isso, e ficar agarrada à ultima página da história, com pena de estar a ler a palavra "Fim", de lagriminha ao canto do olho, porque os Lopes Moreira são gente de valor, que desde o início não teme colocar-se em perigo - com um toque aventureiro - pelos que amam, e queria continuar a torcer por eles.
Acho que já podem perceber que gostei muito de "O Ano da Dançarina". É um romance com alma, onde é até possível aprender um pouco mais sobre a nossa História, e, ainda para mais escrito com um estilo cuidado que nos impele a a continuar a ler. Vou querer acompanhar a o restante trabalho da autora, sem dúvida.
E vocês, já leram "O Ano da Dançarina"? Qual é a vossa opinião?
Boas leituras!
Nota: O meu exemplar foi uma agradável oferta, como vos tinha mostrado aqui, a que tenho de agradecer à Carla M. Soares. Obrigada!
Como podem imaginar, a leitura de "O Ano da Dançarina" consegue ser emotiva. Através das suas páginas acompanhamos as vivências da família, que se entrelaçam com a História em certos momentos. Além disso, temos a oportunidade de captar o ambiente lisboeta da época, tolhida pelo medo da epidemia, frente à qual pouco ou nada se pode fazer, e também de perceber a mente de um combatente na "Guerra das Trincheiras". O medo de Nicolau, aquele omnipresente receio de ouvir as metralhadoras e de se ver de novo em França, transforma-se em pesadelos e ataques de pânico, de uma forma bem credível para o leitor...
Nicolau foi, na verdade, um protagonista que me chamou imenso a atenção. É um homem envolto em trevas, que a certo ponto se deixa tragar por elas, e achei fantástico ler sobre uma espécie de "anti-herói". Porque Nicolau não é perfeito, e tem noção disso mesmo. Comete erros, perde o orgulho, e sente-se, acima de tudo, inútil, seja para confrontar a "inimiga invisível" que assola Lisboa e o mundo, ou para se enfrentar a si mesmo. E cada vez me sinto mais atraída por personagens "imperfeitas", exactamente por serem tão "humanas".
Foi bom perceber que, para além dele, a autora conseguiu povoar o livro com personagens assim, que tal como qualquer pessoa, sonham e odeiam, cometem deslizes, perdem as estribeiras e chegam a pôr em causa a própria fé quando a dor as atinge.
E são personagens, ainda por cima, portuguesas! Foi uma delícia ler em certos pontos os diálogos com aquele tom coloquial que é tão nosso, bem como perceber o uso de expressões da época. Conseguiu envolver-me naquele ambiente, e adoro quando isso acontece. Isso, e ficar agarrada à ultima página da história, com pena de estar a ler a palavra "Fim", de lagriminha ao canto do olho, porque os Lopes Moreira são gente de valor, que desde o início não teme colocar-se em perigo - com um toque aventureiro - pelos que amam, e queria continuar a torcer por eles.
Acho que já podem perceber que gostei muito de "O Ano da Dançarina". É um romance com alma, onde é até possível aprender um pouco mais sobre a nossa História, e, ainda para mais escrito com um estilo cuidado que nos impele a a continuar a ler. Vou querer acompanhar a o restante trabalho da autora, sem dúvida.
E vocês, já leram "O Ano da Dançarina"? Qual é a vossa opinião?
Boas leituras!
Sinopse |
Nota: O meu exemplar foi uma agradável oferta, como vos tinha mostrado aqui, a que tenho de agradecer à Carla M. Soares. Obrigada!
Olá Su,
ResponderEliminarSou fã da escrita da Carla e se já tinha muita vontade de ter e ler este novo livro, a tua opinião só veio confirmar as minhas "suspeitas". Acho que vou adorar!
Já está na minha wishlist e a ver se o consigo arranjar a um preço simpático.
Beijinhos e boas leituras
Olá, Tita,
EliminarObrigada :D estava com receio de não conseguir demonstrar o quanto a história do Nicolau me tocou... Acho que sim, vai ser uma excelente leitura :D
Depois fico à espera de ler a tua opinião - para trocarmos impressões. Vais gostar também de perceber a "verdadeira" razão do título ;D
beijinhos e boas leituras
Olá, Su!
ResponderEliminarAdorei, adorei a tua opinião! Fez-me sentir uma vontade irresistível de ter a obra nas minhas mãos e lê-la logo a seguir!
Esta obra agrada aos dois leitores cá de casa e sei que por isso não demorará muito a habitar as nossas estantes! Mal posso esperar!
Beijinhos e mais leituras saborosas como esta!
Olá, Ana :D
EliminarMuito obrigada! Já tinha comentado que estava com medo de não conseguir transmitir como a história do protagonista me tocou... Espero que também se emocionem com ela, tanto ou mais do que eu :D Depois quero saber a vossa opinião e trocamos algumas impressões ;D
beijinhos e boas leituras
Oie,
ResponderEliminarQue bom teres gostado, apenas li um livro da escritora e gostei muito, este fica registado como boa recomendação :)
Bjs e boas leituras
Olá, Fiacha,
EliminarEspero que também gostes dele :D é bem tocante...
beijnhos e boas leituras