quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

"A Quinta dos Animais", George Orwell

Neste livro conhecemos a Rebelião dos animais da "Quinta do Infantado" que, incitados pelo velho porco "Major" e fartos de produzir apenas em benefício do "Sr. Reis", se revoltam contra o proprietário e tomam a gestão da quinta para si. 
Através do ideais do "Major", decidem que todos os animais são iguais e estão proibidos de adoptar os comportamentos de um ser humano. A princípio, a liberdade e o facto de a propriedade ser "deles" alegra-os. Mas, os porcos que estão no poder, sentindo-se mais inteligentes do que os restantes, depressa lhe tomam o gosto: deixam o sistema de voto, aprendem a manipular os mandamentos da quinta e acabam por ter exactamente o mesmo comportamento "fidalgo" que queriam abolir. Ou seja, "todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros".

Esta fábula de Orwell satiriza o regime ditatorial de Estaline, que, segundo o autor, teria corrompido os ideais socialistas, e pareceu-me realmente uma boa analogia sobre a Revolução e a consequente "perversão" da ideologia. Os animais não só sofrem a manipulação "propagandista" do porco "Tagarela", o único que consegue lembrá-los dos "factos reais" - algo que me lembrou as alterações a documentos do Passado de "1984" - como também  a repressão de ideias próprias, principalmente com recurso à violência. É que "Napoleão", o Líder, tem às suas ordens uma matilha de cães, o ideal para assustar os restantes.
Além disso, achei engraçado ver outras ligações. Por exemplo, tentavam estender a Rebelião às outras quintas, com recurso aos pombos, que falavam sobre os princípios do "Animalismo" e ensinavam "O Hino dos Animais" (uma sátira à "A Internacional"?). Tinham também disputas com dois vizinhos, o "sr. Germano", e o "sr. Bonifácio" (Alemanha e EUA?), e os porcos desprezavam o corvo "Moisés", que contava histórias sobre "A Montanha de Algodão Doce", o local maravilhoso nas nuvens para onde iam os animais depois de morrer (crítica à religião?).
Para além da questão estalinista, a fábula levou-me a pensar sobre regimes ditatoriais em geral, tal como em "1984". Perpassou-me muito a ideia de uma sociedade imposta pelo medo, onde tudo é manipulável e o indivíduo passa a ser apenas um instrumento, que por "vontade própria" ainda toma acções para enaltecer o território e "O Líder" - como fazia o pobre "Trovão", o cavalo de tiro que mais trabalhava no projecto infindável do moinho. E depois, como em todas as sociedades, há quem pense por si, mas que se prefira calar, como o burro "Benjamim", e também quem siga de forma cega, e goste de "balir", mesmo sem entender o que realmente se passa à sua volta, como é o caso do rebanho...

É uma leitura muito interessante, que consegue deixar-nos a pensar sobre os problemas do abuso de poder, do fanatismo e da necessidade de pensarmos por nós próprios - algo que é sempre premente ter em mente.
Recomendo!

Sinopse

Já o leram? Qual é a vossa opinião?
Boas leituras!

Nota: Esta leitura foi feita em conjunto com a Isaura, do Jardim de Mil Histórias, uma experiência muito engraçada que revelou a forma como a percepção sobre uma única história pode mudar, consoante o que já conheçamos sobre ela. Obrigada!

4 comentários:

  1. Olá Su!
    Adorei esta experiência de leitura conjunta contigo! Foi é curta demais!! Temos que combinar outra para partilharmos mais pontos de vista.
    Como sabes a minha visão foi diferente, embora condicionada com as informações que já tinha :)
    Beijinhos e boas leituras

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    1. Olá,
      Obrigada, Isaura :D eu também adorei, foi mesmo giro. Temos mesmo de combinar outra, mas concordo. Que seja a leitura de uma obra maior.

      bejinhos e boas leituras

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  2. Olá Su,
    Já li este livro há uns anos e adorei! Aliás, foi com este livro que me iniciei com Orwell e posso dizer que já li uns quantos livros do autor e gosto muito.
    Beijinhos

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    1. Olá, Tita,

      Acredito :D com este e "1984" também estou a ficar fã. Gosto muito da visão "acutilante" dele hehe

      bejinhos

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