Há livros que parecem ter sido escritos para nos partir o coração. É claro que existe uma sombra ao longo das páginas do romance, pelo que não consegui deixar de ter a sensação de que "algo" ia acontecer. Assim foi: o meu coraçãozinho foi atirado à parede, e até soube bem. Espicaçou-me, e o que há de melhor na leitura do que ficar agarrada àquele mundo do autor? Porque há livros que são terminados com um suspiro de alívio e posso tê-los adorado, mas depressa estou interessada no livro seguinte. E também há esta situação: a de querer que a história continue, porque o final não me apaziguou. Vai assombrar-me, de certeza.
Neste romance acompanhamos Antonio durante um ano decisivo para a vida dele. É um adolescente chileno deixado pelos pais num colégio católico inglês, Glee Hill, enquanto o casal vai viajar pela Europa para reavivar o casamento. É claro que o chileno é "um estranho numa terra estranha", que preferia estar na propriedade agrícola do avô junto à cordilheira dos Andes do que ali. É logo confrontado por Harrison, o arrogante menino rico antagonista que lhe dá uma sensação de insegurança dentro do colégio, e apenas se sente mais aceite por dois dos companheiros com quem partilha o dormitório. Um é Vinski, um polaco melancólico idealista, e o outro Reed, um amante do mundo Clássico e uma pedra no sapato de Glee Hill, que não tem teme proferir a sua opinião, mesmo que contrária aos ensinamentos dos Fathers.
Ao longo do livro vamos acompanhando os momentos do trio, o plano que Reed põe em marcha para destroçar Harrison, e a mágoa de Antonio, que se interessa por Ela, a rapariga com quem cruza olhares ao Domingo, na abadia.
Como está dividido por trimestres e férias, percebemos a diferença de ânimo de Antonio. No colégio só sente que é um bom aluno no Râguebi, apesar de o Father Leven, o treinador, exigir tanta atenção dele - deixou-me a pensar se não o assediava com outras intenções. Já nas férias, o jovem vagueia por Londres e mata o tempo no escritório do tio Agustín, pois os pais estão demasiado "ocupados" para o visitar. É nessas ocasiões que se adensa a memória do tio Armando, que o protagonista venerava, e percebemos que estamos a ler um romance sobre consequências.
Permeado pelo tom melancólico da narração de Antonio, o livro prende-se na dor de crescer e na vontade de ser livre - de ser adulto, no fundo -, mas também na percepção de que cada acção pessoal põe em marcha uma cadeia de acontecimentos que nem sempre pode ser parada.
Gostei muito de ler este romance, mesmo que a meio o seu objectivo não fosse claro. O estilo de escrita é mesmo do meu agrado e a voz de Antonio prendeu-me, enquanto sentia que também convivia com Vinski e Reed. Foi uma leitura marcante, como já expliquei, e deixou-me com vontade de "repescar" os autores sul-americanos.
Sinopse |
Já conhecem este livro? Qual é a vossa opinião?
Boas leituras!
Nota: O meu exemplar foi cedido para análise pela Editorial Bizâncio, a quem mais uma vez agradeço.