quarta-feira, 26 de outubro de 2016

"A 19.ª Esposa", David Ebershoff

Este é um romance a prática da poligamia na comunidade mórmon, e a forma como tantas vezes a religião desculpa os ideais dos homens. No livro cruzam-se duas histórias centradas em duas esposas polígamas. Uma é sobre Ann Eliza Young - a 19.ª esposa de Brigham Young, o segundo líder da Igreja dos Santos dos Últimos Dias -,  que se revoltou contra o dito "casamento celestial" e encetou uma cruzada pelos Estados Unidos da América que viria a ilegalizar a prática de vez no séc.  XIX. A outra parte é acerca de BeckyLyn, uma 19.ª esposa acusada de matar o marido, um caso que será investigado pelo próprio filho, Jordan Scott, já na nossa época. 
Para além do relato de Jordan e da "auto-biografia" de Ann Eliza, baseada nos seus livros de memórias, o livro é complementado com "documentos" como notícias, entrevistas, excertos de "diários" ou de correspondência das pessoas que estiveram envolvidas com esta personalidade, pelo que realidade e ficção se cruzam.

Bem, este é um daqueles romances em que fico dividida. Gostei do conteúdo, é interessante, mas achei-o muito repetitivo.
Adorei conhecer a História do início da comunidade mórmon, tenho que admitir. É um assunto que me deixa curiosa, e gostei de saber que essa Igreja teve um papel importante na colonização do Oeste dos Estados Unidos, mais propriamente no território que viria  ser conhecido como o Utah. Além disso, gosto de perceber como a fé pode mover massas e também cegar tanta gente. 
O tema principal do livro é a poligamia, um "dever" que a certo ponto foi "Revelado" ao fundador, Joseph Smith Jr., e que seria um pomo de discórdia nos Estados Unidos. Fiquei com a ideia de que o suposto seria o marido ter uma grande família para "povoar" o mundo de Santos, e se tal não fosse seguido a eternidade ficaria barrada. No entanto, se tal acto parece até altruísta da parte das próprias esposas - por muito que revolte, porque partilhar um marido ou ver um pai partilhado por mais vinte irmãos é para quem tem estômago - , por outro deixa que pensar, e é esse o objectivo. Até que ponto seria a poligamia tão "santa"? Até que ponto não seria uma forma de se "coleccionar" mulheres? Parece-me mais uma maneira de um homem conseguir ter qualquer rapariga que desejasse de uma forma aceitável para os vizinhos, já que poderia desposar uma hoje, outra amanhã...
Entretanto, a parte sobre Jordan Scott centra-se numa seita poligâmica na ficcional Mesadale, Utah, de onde o protagonista foi expulso. Estes "Pioneiros" seriam fruto de um cisão com a Igreja Mórmon - que acabou por abandonar o ideal da poligamia -, liderados por um Profeta cuja palavra é a Verdadeira. As crianças são educadas consoante o que ele decide - ao ponto de não conhecerem a História Mundial real, porque se o Profeta diz que França foi destruída é porque é verdade -; a poligamia é lei - e ai de quem apenas queria manter uma esposa, porque só a ela ama; e alguns rapazes são expulsos o mais depressa possível - há que manter o número de mulheres superior... Através de Jordan, percebemos como será crescer numa seita e, para mais polígama, onde uma casa tem até a refeição racionada, tal a quantidade de gente que lá vive, e  a consanguinidade é aceitável.
Jordan regressa à zona que o viu nascer para perceber melhor o que se passou, já que não acredita que a mãe seja culpada pela morte do pai. Os capítulos sobre o mistério são narrados como um relato, e a sua leitura torna-se rápida. Já os restantes...
É que o formato do livro, que referi acima, por um lado é genial, por outro foi o que tanto atrasou esta leitura. Acabei por ir dando preferência a outros livros por me aborrecer, porque a história se torna repetitiva. Por um lado é verdade que é interessante acompanhar a perspectiva da mãe de Ann Eliza, que foi uma das primeiras fiéis mórmones, do pai, dos irmãos e, até, de um dos filhos, ou também os trabalhos de uma estudante sobre o assunto, mas por outro parece que se lê sempre sobre o mesmo tema. É certo que no final o formato é justificado, mas tornou o livro cansativo, e eu não o esperava. Era daqueles romances que queria muito ler e que apostava que ia adorar, e tive pena de não me sentir compelida na leitura como prefiro.
Ainda assim, a "19.ª Esposa" valerá a pena para quem também se sentir curioso sobre esta questão da Igreja Mórmon - com o devido aviso de que pode não ser um page turner.

Sinopse

Já leram o livro? Foi adaptado a um tele-filme (que pela sinopse me parece demasiado alterado) e não é de mais lembrar  que David Ebershoff é também o autor de "A Rapariga Dinamarquesa", entretanto adaptado e "oscarizado".
Boas leituras!

2 comentários:

  1. Olá Su,
    Já estive com este livro na mão várias vezes mas apesar de achar a temática interessante, sempre houve algo que me fazia não comprar (e não sei explicar).
    E gostei muito da tua opinião pois já deu para ter uma ideia de que é o livro. Parece interessante e realmente é pena ser tão repetitivo. De qualquer modo ser que um dia lhe dê uma oportunidade :)
    Beijinhos

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    Respostas
    1. Olá, Tita,
      Que coincidência :D obrigada! Tentei ser o mais justa possível, porque o livro tem qualidade e é daqueles com os quais aprendemos. Senti que o que tinha lido tinha valido a pena, mas pronto, "bate sempre na mesma tecla".
      Se o encontrares em promoção dá-lhe essa oportunidade. Já tens outra ideia dele e talvez o aproveites melhor :D

      beijinhos e boas leituras

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